O escravo de Assurbanipal
Ser escravo do grande rei Assurbanipal,
o senhor do Universo,
era melhor que ser seu conselheiro ou o seu rei vassalo.
O posto de conselheiro era particularmente inseguro.
A ira do grande rei era a do leão sanguinário.
Numerosos conselheiros foram esfolados.
O trabalho de escravo era, pelo contrário, tolerável,
devido a uma disposição do grande rei,
segundo a qual escravos, cavalos e cães deviam ser
tratados por igual
e estar, além disso, bem alimentados e patentear um
aspecto agradável durante a sua permanência no palácio.
Como esta disposição se cumpria escrupulosamente
e como os próprios escravos contribuíam para dar
uma impressão de limpeza,
sobrevivi, enquanto escravo, a muitos conselheiros.
Nem sequer o astuto Kasabuk
- perito em fúrias de leão -
logrou sobreviver-me.
A sua pele foi estendida no muro da Ira
enquanto a minha pele era jungida diariamente
para o serviço de sentinela.
Eu pertencia à Guarda Aromática.
Cada dia à hora da lavagem
limpavam-me e tratavam-me
com a mesma escrupulosidade dada a um cavalo de caça
ou a um cão do palácio.
Assim pude viver muito tempo
enquanto muitas notáveis personalidades
eram queimadas como diligentes traças
pelo Grande Rei,
a Lâmpada das lâmpadas.
.
.
Harry Martison. O destino da árvore é transformar-se em papel, Antologia de poesia sueca. Lisboa: ed. contracapa, 2021, pp 29-30 (Versão portuguesa de Amadeu Baptista).
.
.
.