Era um dia assim desses que se vão fazendo
Era um dia assim, desses, que se vão fazendo
A tua voz seguia em frente o que de ti havia para dias mais bonitos.
Não trazias nenhuma luz, eras feito de vento, um cometa que nasceu desfeito
Mas nada me deteve pois eras um Amigo.
Tinhas ainda aquele calor de quem faz fogueiras e nossa lenda
Foi um dever cumprido
Na sonda desses dias de talentos feitos
Ficámos parados nos recantos desta casa com a alma que vesti,
trajando-a. Esta foi a casa que esculpi e nos dias estavas nela
assim como uma Arca, ou uma Barca que fiz bela. Tu nem eras
meu, éramos um do outro em cada um, nada nos servia, nada
nos queria... nem nós quisemos o que cada um seria
Fomos duros e tristes,.estava sempre frio, eu já nem sorria e tu
vazavas nos dias outros céus... não passava em nossos pés mais
nenhum rio.
E mesmo assim, não queria que te fosses
Se tivesses vindo, se num dia ameno te abrisse a porta e
vestíssemos a nossa melhor roupa...
Só para despedir de um tempo que nada nos fez e contudo não
desfez o nosso estranho mundo
Um poema mudo com valsas lentas de encanto e luto.
.
.
Amélia Vieira. Cânticos. S/c.: Filigrana Editora, 2023, p 46.
.
.
.