segunda-feira, 30 de outubro de 2023


     O pássaro vermelho explica-se


"Sim, eu era o brilho que flutuava sobre a neve
e era a canção nas folhas de verão, mas este foi
apenas o primeiro truque
que aprendi de entre as minhas diversas mitologias,
pois também conheci a obediência: trazer galhos para o ninho,
comida para as crias, beijos para a minha noiva.
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Mas não paremos por aí, fica comigo: escuta.
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Se eu era a música que entrava no teu coração
então eu era a música do teu coração, que desejavas ou precisavas,
e assim a natureza selvagem aí brotava, com todos os seus
seguidores: jardineiros, amantes, pessoas que sofrem
com a morte dos rios.
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E era esta a minha verdadeira tarefa, ser a
música do corpo. Compreendes? porque o corpo precisa verdadeiramente
duma canção, dum espírito, duma alma. E para que isto funcione,
a alma precisa, no mínimo, dum corpo,
e eu pertenço tanto à terra como à inexplicável
beleza do céu
onde vôo tão naturalmente, tão bem-vindo, sim,
e é por isso que fui enviado, para ensinar isto ao teu coração."
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Mary Oliver. Pássaro vermelho. Porto: Flâneur, 2022, pp 167-169 (Tradução de Tomás Sottomayor).
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