quarta-feira, 24 de julho de 2024

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A 14 de outubro de 1994, seis anos após o anúncio do seu Prémio Nobel, o escritor egípcio Naguib Mahfouz, de oitenta e dois anos, saiu de casa, dirigindo-se a pé ao seu café favorito para a reunião semanal com os seus colegas escritores e pensadores. Enquanto caminhava houve um carro que começou a rodar lentamente ao seu lado. Ele disse mais tarde que pensara que era provavelmente um fã. Não era um fã. Era um homem que saltou do carro e esfaqueou repetidamente Mahfouz no pescoço. Mahfouz ficou por terra e o seu atacante fugiu. Felizmente, o grande escritor sobreviveu ao ataque, mas foi um caso de “terrorismo cultural” do qual tinha previamente acusado os fundamentalistas islâmicos egípcios. Um ataque deste tipo pairava há muitos anos sobre a cabeça de Mahfouz. (…) tinha sido proibido por “ofender o Islão”. Pelo menos um mulá ativista fanático tinha declarado que Mahfouz merecia morrer. Descobriu-se uma lista de condenados à morte islamita na qual ele figurava, quase à cabeça.

(…) Sobreviveu, e viveu mais doze anos, com a permanente proteção de guarda-costas que antes tinha recusado. Os ferimentos foram de tal ordem que só conseguia escrever uns minutos por dia.

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Salman Rushdie. “Faca”. Alfragide: D. Quixote, 2024, pp 179-180.

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