Eis
o segredo da elegância de Brummell; eis, afinal, o segredo de todas as
elegâncias: a perfeição discreta, a harmoniosa simplicidade. – “O verdadeiro
elegante – dizia Brummell -não deve dar nas vistas.” E Barbey d’Aurevilly
repetiu: -“ L’homme bien mis ne doit pas être remarqué.” Na fria distinção do
grande dandy havia alguma coisa de sobriedade grega, do maravilhoso equilíbrio
ático: a entrada de Jorge Brummell no salão doirado de Lady Giorgiana Spencer,
duquesa de Devonshire – então o mais célebre salão de Londres – devia lembrar a
do elegante Alcibíades, caminhando, coroado de violetas (…) O favorito de Jorge
IV de Inglaterra era um orgulhoso frio, um insolente amável, um impertinente
paradoxal, um desfrutador glacial e irónico que olhava para toda a gente do
alto do seu desdém (…) que sem ter tido sequer talento (as poucas cartas que
dele restam são notavelmente mal escritas), deixou discípulos na literatura
inglesa, um dos quais (…) é Oscar Wilde.. (…) Os ídolos depressa caem. Uma bela
noite, numa ceia em Carlton-House, quando já o champanhe corria a rodo,
Brummell voltou-se para o príncipe de Gales: - “Jorge, chama o criado!” O
futuro Jorge IV de Inglaterra empalideceu, mediu de alto a baixo o insolente,
puxou o cordão de seda da campainha, e, quando os criados assomaram, limitou-se
a dizer: -“Levem esse bêbedo.” (…) Morreu louco, em 1840, num asilo de
alienados.
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Júlio
Dantas. “O heroísmo, a elegância, o amor”. Lisboa: Delraux, 1980, pp 70-74.
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Jerónimo
Colaço e Paiva Araújo representam duas modalidades opostas da elegância do
Romantismo: a elegância alegre, expansiva, brilhante, e a elegância triste,
byroniana, melancólica. Ambas elas foram queridas das mulheres, mas a segunda
foi, quase sempre, infeliz no amor. (…) Quero referir-me a Garrett. Para em
tudo ser grande, este homem singular a quem os seus contemporâneos chamaram “o
divino”, como a Platão, foi um dos maiores, senão o maior elegante do seu
tempo. (…) Quando tinha de pronunciar algum dos seus monumentais discursos, não
esquecia nenhum pequeno pormenor de elegância: ele, que não usava rapé, levava
sempre consigo uma pequena tabaqueira de ouro para o ajudar nos gestos; e
nunca, antes de começar a falar, deixava de esfregar as mãos para as fazer mais
pálidas (…) Que elegância majestosa, só comparável à de Lamartine!
Iluminava-se, crescia, arrebatava. E, entretanto, Garrett não era belo. Garrett
lutava com a falta de dotes naturais (…( Tudo nele era postiço, desde o
espartilho até ao chinó (…) desde o chumaço dos ombros até ao bucho das pernas.
Quando à noite recolhia a casa (…) desmanchava-se como um puzzle.
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Júlio
Dantas, Idem pp 86-88.
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