segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019
Paisagem
As janelas arruinadas pintadas com desleixo.
As varandas, já pele e osso,
viradas para coisa nenhuma.
As galinhas debicando por entre as pedras:
ervas rasteiras, sementes, pedacinhos de musgo.
Enquanto o poema, virando costas ao modernismo,
abre-se à parede fronteira:
tijolos já sem cor, fundações ameaçadas,
pombais calafetados para as noites dos mendigos.
As janelas arruinadas e pintadas com desleixo
denunciam as portadas sem linguetas nem fecho.
As janelas e as portas violadas
- como insisto aqui no poema -
traduzem a morrinha da paisagem, mudam-na,
e num dos cantos do quadro, na vastidão de um azul seco,
brilham teus cabelos de oiro
como âncora de sol na ponta do beco.
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Mateus, Victor Oliveira. Aquilo que não tem nome. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, p 24.
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