Final do poema Tristan und Isolde: enlouquecimento e morte de Isolda.
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Isolda
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Como ele sorri
com que doçura e calma:
como abre ele, docemente,
os olhos!...
Será que não vedes,
amigos?...
Não o víeis?...
Cada vez mais luminoso,
como brilha agora
e se eleva
numa irradiação
estelar!...
Não o credes?...
Como o seu coração
ardentemente se dilata
no seu ventre
que abrange a
plenitude!...
Como os seus lábios,
com uma doçura inefável,
exalam ternamente
um sopro suave!...
Amigos!... Vede!...
Não o sentis vós e não o
vedes?
Serei eu a única a escutar
esta melodia
que, com uma doçura
tão maravilhosa,
afortunadamente lamentosa,
expressando tudo,
irradia dele
e reconciliadora,
m’ investe,
s’ eleva,
inunda-me com seus sons
de suaves ecos?...
Claros e sonoros,
envolvem-me por todo o
lado,
serão vagas
de brandos ventos?...
Serão ondas
de inebriantes aromas?
Como elas se agigantam
e me cercam de sons!...
Poderei eu respirar?...
Conseguirei escutar?...
Irei eu embriagar-me,
imergir?...
Dissolver-me
suavemente em aromas?....
Na ondulação das vagas,
na ressonância dos sons,
no turbilhão
da respiração universal,
ser engolida,
dissipar-me,
inconsciente!...
Alegria suprema!...
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Wagner, Richard, Tristan und Isolde (Bilingue). Paris: Aubier Flammarion, 1974, pp 239 -241 (Tradução de Victor Oliveira Mateus a partir da versão francesa de Jean d'Arièges).
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