sábado, 27 de março de 2021


         Canção de Embalar


Descansa agora. Foram
demasiadas emoções.

O crepúsculo, depois a noitinha. No quarto
cintilam pirilampos, aqui, acolá, aqui, acolá,
e a funda doçura do Verão entra pela janela aberta.

Não penses mais nestas coisas.
Ouve-me a respirar, ouve-te a respirar
como os pirilampos, cada pequeno sopro
é um clarão onde aparece o mundo.

Já cantei muito para ti na noite de Verão.
Hei-de conquistar-te, no final: o mundo não pode conceder-te
esta visão contínua.

Deves aprender a amar-me. Os humanos devem aprender a amar
o silêncio e o escuro.


   Louise Gluck. A Íris Selvagem. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2020, p 119 (Tradução de Ana Luísa Amaral).
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