Sou livre para estar só
e acariciar tua sombra
e ouvir a melodia que soa
rascante pelo corpo elétrico do dia
Para nada dizer, para contemplar
o sonho que viaja luminoso
por todo o meu corpo, fluido como os outros
misturado ao suor, ao sangue, à saliva,
à lágrima, contido no ar que inspiro e expiro
ansiosa por sorver o que restar de vida
Sou livre para me entregar
ao orgasmo solitário, único
sol a preencher a manhã
livre para o delírio e o desvanecimento
o desmaio da realidade, o sonho labiríntico
a que me agarro, onde me perco, onde me acho
onde te busco ardente e sem descanso
o desejo latejando nas entranhas
como criatura autônoma sem limites
num incêndio raso sobre a cama.
Luíza Mendes Furia. Vênus em Escorpião. São Paulo: Editora Patuá, 2016, p 31.
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