Rarefação
certas tardes a presença das coisas e de nós
rarefaz-se até ao remorso
é em março, em junho, em setembro,
caímos na melancolia do silêncio
sobre as paredes,
não habitamos lugar nenhum,
somos inóspitos
e sós
o ar queima ao passar
nas narinas e pela boca
é como se uma violência
mansa, desmedida,
deslassasse o mundo
e fosse culpa nossa
como se nem a poesia
pudesse suportar dor tamanha,
nem para ela houvesse
consolo ou outra forma
de expiação
João Ricardo Lopes. Eutrapelia. Fafe: Editora Labirinto, 2021, p 48.
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