sexta-feira, 25 de março de 2022

 Coimbra, 19 de Março de 1943 - Faz pena. A gente elege entre trinta mil almas meia dúzia de indivíduos para conviver, e, afinal, chega perto deles a defender uma pureza política, uma pureza profissional, uma pureza sexual, e caem sobre nós mil argumentos dum pragmatismo dúbio, suspeito, que confrange. Longe de se receber estímulo para combater as tentações, encontra-se um escorregadoiro conivente para o abismo delas - É o meio - repito de cada vez, a tentar iludir-me. Mas é inútil vendar os olhos. Até o meio geográfico se pode vencer, quanto mais o meio social. Na luta contra as atraccções inferiores do ambiente humano é que está precisamente a beleza duma vida. O meio! Eles é que são o meio, assim perdidos, duplos, comprometidos com a podridão até à raiz.


Miguel Torga. Diário II. Coimbra: 4ª Edição, pp 144-145.

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sábado, 19 de março de 2022


DIA MUNDIAL DA POESIA: 21 de março de 2022.
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Numa iniciativa conjunta da George Mason University (Virgínia, U.S.A.) e da P.U.C.M.M. (Pontifícia Universidad Católica Madre y Maestra  da República Dominicana) celebra-se, no próximo dia 21, o Festival Arte Vivo (de Poesia) com colaborações de autores de vários países. Atendendo ao facto de se terem de considerar os fusos horários dos diversos países, a colaboração portuguesa iniciar-se-á às 9:00H de Lisboa. O Festival prolongar-se-á ao longo das 24 horas desse dia e pode ser acompanhado nos canais do Facebook e do You Tube das referidas Universidades. A delegação portuguesa é formada pelos seguintes autores:
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Leocádia Regalo
João de Mancelos
João Rasteiro
José António Franco
Maria do Sameiro Barroso
Maria Toscano
Miguel Barreto
Victor Oliveira Mateus
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domingo, 13 de março de 2022


  Geres, 23 de Agosto de 1942 - Não queira coisas impossíveis, - dizia-me hoje uma mulherzinha que andava na serra à lenha, quando eu tentava subir a uma penedia inacessível.
   - Quero, quero! - respondi-lhe obstinado.
   Ela então olhou-me com uns doces olhos de ovelha tosquiada pela vida, e sorriu melancòlicamente. Depois, pôs o molho à cabeça, e partiu.
   E eu fiquei-me o resto da tarde ali, a ver cair o sol e a pensar em que sonho irrealizável teria aquela alma simples posto um dia o desejo, para com a sua desilusão formular uma frase tão carregada de renúncia e amargura.


   Miguel Torga. Diário II. Coimbra: 4ª Edição, p 58.
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terça-feira, 8 de março de 2022

Lamego, 22 de Março de 1940 - Não há nada que resista ao tempo. Como uma grande duna que se vai formando grão a grão, o esquecimento cobre tudo.        

   Ainda há dias pensava nisto a propósito de não sei que afecto. Nisto de duas pessoas julgarem que se amam tresloucadamente, de não terem mùtuamente no corpo e no pensamento senão a imagem do outro, e daí a meia dúzia de anos não se lembrarem sequer de que tal amor existiu, cruzarem-se numa rua sem qualquer estremecimento, como dois desconhecidos.   

    Esta certeza, hoje então, radicou-se ainda mais em mim.

   Fui ver a casa onde passei um dos anos cruciais da minha vida de menino. E nem as portas, nem as janelas, nem o panorama em frente me disseram nada. Tinha cá dentro, é certo, uma nebulosa sentimental de tudo aquilo. Mas o concreto, o real, o número de degraus da escada, a cara da senhoria, a significação terrena de tudo aquilo, desaparecera.


 Miguel Torga. Diário I. Coimbra: 7ª Edição, pp 135-136.

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segunda-feira, 7 de março de 2022

 

Coimbra, 6 de Dezembro de 1938 - Dia de confissão geral. Isto e aquilo da minha vida, do meu temperamento, desta incapacidade que tenho de criar harmonia. Os meus sete pecados mortais em carne viva.

...Quinto - a sede de amor absoluto que me devora;

    Sexto  - o clima tropical de violência e ternura que envolve o que penso e faço.  Absolvido.

     Depois do sétimo, porque não tentava eu dar forma capaz a tudo quanto dizia, que era realmente belo?   Porque não. Porque um homem não se escreve.

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 Miguel Torga. Diário I. Coimbra: 7ª Edição, p 85.

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sábado, 5 de março de 2022


         Pedaços


O teu pensamento
quebra-se nas palavras
dos teus lábios

Recolho com cuidado os pedaços
ordeno-os, firo-me,
e crio um novo pensamento
meu.
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 Thurídur Gudmundsdóttir. Pelos nossos corações passa a linha de fogo, antologia de poesia islandesa. S/c.; Ed. Contracapa, 2021, p 266 (Versão portuguesa de Amadeu Baptista).
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sexta-feira, 4 de março de 2022


Foi eleita ontem, dia 3 de abril de 2022, a lista dos novos corpos sociais do PEN CLUBE PORTUGUÊS:
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MESA DA ASSEMBLEIA GERAL:
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PRESIDENTE- Teresa Martins Marques
PRIMEIRA SECRETÁRIA - Rita Marnoto
SEGUNDA SECRETÁRIA - Teresa Sousa de Almeida
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DIRECÇÃO:
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PRESIDENTE- Fernanda Mota Alves
TESOUREIRO E VICE- PRESIDENTE- José Mário Leite
SECRETÁRIA- Maria João Cantinho
VOGAL- Elisabete M. de Sousa
VOGAL - Alcinda Pinheiro
SUPLENTE- Fernanda Gil Costa
SUPLENTE- João Rasteiro
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CONSELHO FISCAL:
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PRESIDENTE- Victor Oliveira Mateus
VOGAL - Rodolfo Begonha
VOGAL- Filipa Vera Jardim
SUPLENTE- Teresa Carvalho
SUPLENTE- Sérgio Guimarães de Sousa
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terça-feira, 1 de março de 2022


                     Vocação


Ali vai, o glutão e ébrio
quantas vezes não desejei
deixar a minha cruz da casa
e segui-lo?
poderia sentar-me a seus pés
à sombra de uma figueira
e admirar
as suas graciosas palavras
ou correr com ele na praia
ou vê-lo desenhar na areia figuras de peixes
ou ir buscar barro
para modelar pássaros
depois iríamos a uma festa
de algum cobrador de impostos
ou a uma boda camponesa
onde houvesse bastante
que comer e beber
com muito gosto armaria a tenda na praça
escandalizando os fiéis da paróquia
e derrubaria as mesas dos vendedores
no pátio do templo.
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 Vilborg Dagbjartsdóttir. Pelos nossos corações passa a linha de fogo, antologia de poesia islandesa. S/c.: Ed. Contracapa, 2021, pp 171-172 (Versão portuguesa de Amadeu Baptista).
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