Estou sentada na
beira da cama
imparcial, transformei-me em cristal, tu entras
trazendo amor em forma de
uma caixa de cartão (vazia)
um bolso (vazio)
algumas mãos (também vazias)
Tem cuidado digo mas
como podes tu
a coisa
vazia surge das tuas mãos, enche
o quarto lentamente, é uma
premência, uma ausência de
premência
Como criatura do fundo
do mar com ossos de vidro e olhos
de bolacha trazida
à superfície, rompo-
-me, os pedaços de mim
brilham brevemente nas tuas mãos vazias
Margaret Atwood. Políticas de poder. Lisboa: Relógio D' Água Editores, 2022, p 93 (Tradução de Ana Luísa Amaral).
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