domingo, 23 de julho de 2023


        A porta azul


Uma porta azul ferrete com um postigo,
abram-ma depressa. Que seja repentina,
dura, difícil de encontrar. Que tenha
tábuas com sinais de anos enormes
e esteja fechada a cadeado. Uma porta
é sempre a salvação não sei de quê,
um sorvedoiro, um rastejar à volta da mudança.
Não sei se esta porta é para o passado.
Quando a suspeito azul bem mais azul
que o pensamento, sei que esse mistério
irá descobrir o meu lugar. Um olho
de deus e do inferno, se eu acreditasse.
Abram-me esta porta, pintada e repintada,
azul para além do ar. Nem eu nem ela
sabemos para onde abre.


  Isabel Cristina Pires. O Planeta Irreal. Vila Nova de Famalicão: Edições Húmus, 2023, p 60.
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