sexta-feira, 23 de agosto de 2019

             PROGRAMAÇÃO DO FESTIVAL LITERÁRIO DE OVAR 2019 
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Dia 12 de setembro 5ª feira 21h Conferência de abertura Eng. Salvador Malheiro- Presidente da Câmara Municipal de Ovar 
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21h30
 Mesa 1
 “Confundidos os seus cabelos com os cabelos do vento, têm o corpo feliz de ser tão seu e tão denso em plena liberdade.” 
José Viale Moutinho 
Gisela Casimiro 
M: Bruno Henriques 
22h30-23h 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
23h 
Performance de Poesia- Renato Filipe Cardoso 
“Aquele que busca uma relação justa com o mar, com a pedra, com a árvore, contribui para uma relação mais justa entre os homens.” 
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Dia 13 de setembro 6ªfeira 
21h30 
Mesa 2 "O poema me levará no tempo/quando eu já não for eu/e passarei sozinha/entre as mãos de quem lê.” 
Tiago Alves Costa 
Luís Filipe Sarmento 
António Vilhena 
M:Marcelo Teixeira
 22h30-23h 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
23h 
Contadora de Histórias Mariana Machado "Agora quem conta" - contos, fábulas, lenga-lengas - sessão de contos ao desafio por Mariana Machado 
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Dia 14 de setembro sábado 
15h 
Mesa 3   “A beleza é simplicidade, verdade, proporção. Coisas que dependem muito mais da cultura e da dignidade do que do dinheiro.”
Isabel Rio Novo
Susana Moreira Marques 
Marlene Ferraz 
M: João Morales 
16h-16h30 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
16h 
Apresentação de Livros 16h Workshop de ilustração Fedra Santos 
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16h30 
Mesa 4 “Eu também não tenho capacidade para compreender matemática, quanto mais… os desígnios de Deus.” 
Andreia Azevedo Moreira 
Yara Monteiro 
Sandra Catarino 
M: Isabel Nery 
17h30-18h 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
17h30 
Apresentação de livros 
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18h 
Mesa 5 “Procuramos o que nos cria uma certa libertação íntima que é necessária à liberdade.” Henrique Manuel Bento Fialho 
Sérgio Almeida 
M: Maria João Cantinho 
19h30-20h Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
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21h30 
Mesa 6 “Por maior que seja o desespero, nenhuma ausência é mais funda do que a tua.” 
Júlia Nery 
Alice Brito 
Teresa Moure 
M: Cristina Marques 
23h-23h30 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
23h 
Performance de Poesia- Renato Filipe Cardoso “Que difícil que é a vida dos homens, eles não têm asas para voar por cima das coisas más.”  
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Dia 15 de setembro Domingo 10h30 
Mesa 7 “Ela manda-te dizer que já sabe o que é a saudade.” 
Espaço Literatura Infantil 
João Cunha Silva 
Maria da Conceição Vicente 
Maria Almira Soares 
M: Carlos Nuno Granja 
12h 
Sessão de Contos 
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15h 
Mesa 8 “A cidade onde habito é rica de desastres, embora exista a praia lisa que sonhei.” 
Pedro Guilherme-Moreira 
Wagner Merije 
Pedro Teixeira Neves 
M: Manuella Bezerra de Melo 
16h 
Apresentação de livros 
16h 
Workshop de ilustração Evelina Oliveira 
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16h30 
Mesa 9 “É o teu rosto ainda que eu procuro, através do terror e da distância, para a reconstrução de um mundo puro.” 
Nuno Costa Santos 
Marco Neves 
Isabel Tallysha-Soares 
M: João Morales 
17h30-18h 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
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18h 
Mesa 10 "Os que avançam de frente para o mar/e nele enterram como uma aguda faca/a proa negra dos seus barcos/vivem de pouco pão e de luar.” 
António Mota 
Filipe Homem Fonseca 
M:Victor Oliveira Mateus 
19h-19h30 
Espaço de conversa entre escritores e leitores (autógrafos) 
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19h30 Encerramento
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na paisagem que o calor minou;
o deserto invade-as pela base:
apenas dunas
e uma película exterior de pedra
a sustentá-las;
cactos tão desidratados
que tornam a expandir-se:
formas inchadas no horizonte
procuram alcançar as nuvens;
e estas,
também sem água ou chuva previsível,
flutuam vagarosamente,
cada vez mais altas; e parecem
por fim fixar-se nas fronteiras
do ar;
a neve a rodear a casa,
a assustá-la
com o seu brilho de vidro;
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 Oliveira, Carlos de. Trabalho Poético. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p 350.
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sexta-feira, 16 de agosto de 2019


            Chama

Versos
e lágrimas, deixai-me
incendiar
o reino da memória
entrançar
o cabelo
pela última vez
à imagem desolada
que tanto me enleou
no seu amor
e arder
ou achar enfim
repouso.


  Oliveira, Carlos de. Trabalho Poético. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p 178.


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terça-feira, 13 de agosto de 2019


Como voltar feliz ao meu trabalho
se a noite me não deu nenhum sossego?
A noite, o dia, cartas dum baralho
sempre trocadas neste jogo cego.
Eles dois, inimigos de mãos dadas,
me torturam, envolvem no seu cerco
de fadiga, de dúbias madrugadas:
e tu, quanto mais sofro mais te perco.
Digo ao dia que brilhas para ele,
que desfazes as nuvens do seu rosto;
digo à noite sem estrelas que és o mel
na sua pele escura: o oiro, o gosto.
   Mas dia a dia alonga-se a jornada
   e cada noite a noite é mais fechada.


  Oliveira, Carlos de. Trabalho Poético. Lisboa: Assírio & Alvim, 2003, p 132.


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segunda-feira, 12 de agosto de 2019


                   Deslumbramento

O meu deslumbramento vive
De entender coisas nulas marginais
Mendigos vermes cardos.

Coisas sujas e moles, ásperas e mínimas.

Tudo o que brilha e voa tem o sol
E os anjos de Deus na sua órbita
São ungidos.

Tudo o que rasteja e repugna
Que fede a indigência e a sovaco
Os anjos de Deus descuidam
Voando para além.

Eu não.

Eu sei quanto custa valer zero
Ficar nas margens da angelical rejeição
E seu enjoo.

Mesmo a ferir a feder a expelir
Eu vejo e sinto
Aromas e afagos
Nos mendigos nos vermes e nos cardos.


   Lima, Cláudio. Eu sempre guardei rebanhos. Fafe: Editora Labirinto, 2019, p 27.


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sábado, 10 de agosto de 2019

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A filósofa Myriam Revault D'Allones fala aqui do seu livro "La faiblesse du vrai". Uma obra fundamental para entendermos o mundo de hoje. D'Allones parte do conceito de post-verdade, termo que aparece, pela primeira vez, numa obra de Colin Crouch (Post-democracy) de 2004, e depois no Dicionário de Oxford em 2006  e que terá a sua grande difusão aquando da eleição de Trump e do Brexit. Na era da post-verdade não interessam os factos objetivos: aos cidadãos serve-se uma realidade fabricada (factos alternativos, fake news, etc.) por dados interesses, cidadãos esses, que, por sua vez, foram já "educados" de várias formas, sobretudo pelas redes sociais e pelos célebres algoritmos, ou seja, os cidadãos passam a desejar e a acreditar, naquilo que lhes é servido. Este é livro fundamental para se entender o hoje e que pode, perfeitamente, ser relacionado com o "La Nuit" de Michael Foessel, que é referido no vídeo anterior desta rubrica (Filosofia) do blogue.
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Je ne suis pas encore mort, encore seul,
Tant qu' avec ma compagne mendiante
Je profite de la majesté des plaines,
De la brume, des tempêtes de neige, de la faim.

Dans la beauté, dans le faste de la misère,
Je vis seul, tranquille et consolé,
Ces jours et ces nuits sont bénis
Et le travail mélodieux est sans péché.

Malheureux celui qu'un aboiement effraie
Comme son ombre et que le vent fauche,
Et misérable celui qui, à demimort,
Demande à son ombre l'aumône.


  Mandelstam, Ossip. Poèmes. Paris: Éditions Librairie du Globe, 1992, pp 165-167 (Traduit du russe par Philippe Jaccottet).


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sexta-feira, 9 de agosto de 2019

O livro Aquilo que não tem nome chegou à semifinal do Prémio Oceanos 2019, um dos mais prestigiados Prémios Literários para obras escritas em português.
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Das mais de 1400 obras concorrentes a este Prémio, foram anunciados, na noite de quinta feira no Consulado-Geral de Portugal em São Paulo, os semifinalistas deste Prémio Literário. Dos 54 autores semifinalistas 18 são portugueses. Segue a lista abaixo:
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De Portugal também foram selecionados os romances "Princípio de Karenina", de Afonso Cruz, "Pão de Açúcar", de Afonso Reis Cabral, "Luanda Lisboa Paraíso", de Djaimilia Pereira de Almeida, "Eliete", de Dulce Maria Cardoso, "Juncos à beira do caminho", de Francisco José Viegas, "Ecologia", de Joana Bértholo, "A Devastação do Silêncio", de João Reis, "Ensina-me a Voar sobre os Telhados", de João Tordo, "Meio Homem Metade Baleia", de José Gardeazabal, e "O fogo será a tua casa", de Nuno Camarneiro
Entre os semifinalistas portugueses estão também os livros de poesia "Olha-me como Quem Chove", de Alice Vieira, "Tratado", de Luís Carmelo, "Estranhezas", de Maria Teresa Horta, "Traçar Um Nome no Coração do Branco", de Rosa Alice Branco, "Ao Ouvido do Diabo", de Rui Xerez de Sousa, e "Aquilo que Não Tem Nome", de Victor Oliveira Mateus.
Está ainda entre os semifinalistas o livro de contos "A Vida É Um Tango e Outras Histórias", de Cristina Norton, escritora portuguesa de origem argentina, radicada em Portugal.
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quinta-feira, 8 de agosto de 2019


J'ai oublié le mot que j'avais voulu dire.
Aveugle, l' hirondelle retourne chez les ombres
Pour jouer, ailes coupées, avec les translucides.
Le chant nocturne naît quand la mémoire succombe.

Plus d'oiseaux. L'immortelle ne veut plus fleurir.
Transparentes crinières du troupeau de la nuit.
Sur le fleuve tari vogue una barque vide.
Au milieu des grillons le mot s'est évanoui.

Lentement il repousse comme un temple ou un mât;
Tantôt, telle Antigone en folie, il se démène,
Tantôt, morte hirondelle, à mes pieds il s'abat
Avec un rameau vert et la douceur stygienne,

Ah, rendre la pudeur aux doigts extra-lucides
Et la saillante joie de la re-connaissance.
Je redoute si fort les pleurs des Aonides,
Le carillon, la brume et la béance.

Reconnaître et aimer, les mortels ont ce pouvoir,
Dans leurs doigts le son coule ainsi qu'une onde;
Mais ce que je veux dire échappe à ma mémoire,
Et sans chair la pensée reviendra chez les ombres.

Limpide, d'autre chose elle parle sans fin,
Hirondelle, mon amie, Antigone...
Et seul le souvenir du carillon stygien
Sur mes lèvres, comme un gel noir, brûle et résonne,


  Mandelstam, Ossip. Poèmes. Paris: Éditions Librairie du Globe, 1992, p 71 (Traduit du russe par Henri Abril).


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quarta-feira, 7 de agosto de 2019


    O último dos ladrões de cisnes


Já não tenho sombra, risco, ave, ouvido,
a pressa de chegar, o fim que se mova,
despi os dizeres da ganga das calças
coçadas no cu do tempo, esqueço a voz

e já os lábios modulam o acre assobio,
mastigo o risco, o termómetro metido
debaixo do braço, conhecem-me mesmo
doente, de óculos escuros e silencioso,

não serei o último dos ladrões de cisnes,
despeço-me de cada gesto sentimental
como se fosse meu, aceno com o lenço
e entro numas outras cavernas, sorrio,


 Moutinho, José Viale. Inóspita paisagem. Fafe: Editora Labirinto, 2019, p 51.


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terça-feira, 6 de agosto de 2019


                 Deserto Portátil


Este é o eterno e oco deserto que se não pode dizer,
as minhas palavras colam-se nos papéis de quanto
me posso esquecer e guardar nas gavetas da cabeça,

ocioso é o silêncio onde não cabe senão a derradeira
pedra do olhar que consome a tarde, espreitar a tarde
pelo buraco da fechadura, vestes o casaco de fogo,

finges, como sempre, que não és mais ninguém ou nada,
nem o nome de deus, esse eterno fogo, se pode dizer aqui,
perde-se o seu nome nas duras e tão longas linhas do rosto,

esta é a ausência das cores da carne, o sol e a areia
por entre os dedos, nos ossos, por entre as sombras
dos papéis queimados, amanhã não nos conheceremos

nem se julgarão das causas de quem devagar vier.


 Moutinho, José Viale. Inóspita paisagem. Fafe: Editora Labirinto, 2019, p 29.



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segunda-feira, 5 de agosto de 2019



de cada vez que deus morre
um peixe abre a boca

a verdade imita o silêncio

meu amor



   Leonardo. caderno de mitos pessoais. S/c.: Ed. Artes e Letras, 2018, p 18.







não digo ilha
nem sufoco sinónimo
não digo o teu nome
o mel golpeia a língua
fecha-te os lábios
estou cercado


  
   Leonardo. caderno de mitos pessoais. S/c.: Ed. Artes e Letras, 2018, p 10.