sábado, 31 de outubro de 2020
2019 Nobel Prize Award Ceremony
metro um senhor, sentado a meu
lado, explica ao telemóvel quase
todos os males deste mundo:
"na cidade as sombras são mais
pesadas"; "as pessoas morrem
mais cedo, amarradas a asas
que nunca utilizaram"; termina:
"um dia destes explico-te tudo
isto melhor, não é nada do
que tu conheces aí na aldeia":
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Tinoco, Rui. poema aberto ao silêncio. Leça da Palmeira: edições Eufeme, 2020, p 14.
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quinta-feira, 29 de outubro de 2020
As
figurações do Deserto na Poesia de Alexandre Bonafim
por Victor Oliveira Mateus
O recente livro de Alexandre Bonafim, Aprendizagem do Deserto, insere-se numa temática que tem, ao longo dos séculos, percorrido a cultura ocidental: o deserto enquanto apelo e fonte de saber e de transmutação do indivíduo que ousa vislumbrá-lo e percorre-lo. Contudo, esta persistência temática nos diversos autores não conduz a uma homogeneização dos resultados, já que cada olhar enforma de uma experiencia vivida específica e de um sistema de valores e de crenças individual; poderemos, eventualmente, encontrar zonas que se tangenciam nas diversas abordagens, mas sem que a originalidade de cada uma delas seja posta em causa.
O deserto em Alexandre Bonafim apresenta,
assim, algumas características fundamentais: encontra-se associado ao dizer ( O deserto diz / com simplicidade / a luz;
Dizer o verdadeiro poema/ é sempre ter a língua
amputada) ; relaciona-se com a
interioridade e a ação ( Dentro dos meus pulsos / um deserto desatou a
ira / dos cavalos selvagens ) ; é
apanágio de poucos: daqueles que decidem empreender a aprendizagem referida no titulo deste livro e que ousam trilhar
esse caminho incomum ( Visto-me pelo
avesso ). O percurso intentado pelo poeta não é coisa pacífica ( Atravesso os campos devastados / as casas em
ruínas / a pátria sem nome; Nada no
mundo pode abrigar/ essa dor estrangeira/ extraterrena/(…) que perfura meus
ossos/ meus sonhos), é, por conseguinte, não só uma senda eivada de
obstáculos, por vezes tumultuosos, mas sobretudo uma aprendizagem que recusa todo o tipo de solipsismo; afirma-se antes
como um acrescentamento do eu mediante uma relação dialógica com o meio e com o
outro, e são estes os dois últimos vetores o fundamental desta Aprendizagem do Deserto, aliás, tal como
aparecem em grandes escritores de outras nacionalidades. Escutem-se, por
exemplo, as palavras da escritora suíça Annemarie Schwarzenbach: “ Atrás de nós
estendia-se a estrada que atravessa a planície desértica e abafada de Teerão
(…) Lá em baixo não havia nada, era um vale morto, muito distante do mundo,
muito distante de plantas e árvores – em vez delas, só pedras e o calor
incandescente que se agarrava ao solo com mil patas.” (1) Ou ainda as do
francês Le Clézio: “É lá, no deserto, que Lalla nasceu, ao pé de uma árvore,
como o conta Aamma. Lá, na região do grande deserto, o céu é imenso, o
horizonte não tem fim. Pois não há nada que detenha a vista.” (2) Ora, são
estas as ideias fundamentais que a acuidade e a maestria de Alexandre Bonafim
não consentem que se percam na sua cuidada tecedura do Deserto: a analogia deserto/ imensidão; a relação viagem/ aridez a
superar; o intercâmbio entre aprendizagem e aprimoramento do ver, do sentir e
do entender. A estas instâncias acrescenta ainda o poeta a forte presença do
outro: presença desejada, presença amada, mas muitas vezes também presença como
germe de mágoa e de desalento. A Aprendizagem
do Deserto é, neste livro e indubitavelmente, uma apreensão não resultante
de um qualquer delírio ou de uma relação fantasiada, mas de uma constante
interiorização obtida através de um complexo e contínuo diálogo com o mundo
natural, com a palavra e com o outro, outro esse, por vezes, sob a figuração de
uma forte proximidade afetiva.
jorro
de uma palavra
na
plenitude
de
um idioma cego
(…)
O
teu rosto
orquídea
melancólica
vermelha
como
a fuga
dos
pássaros
rumo
ao sul
Nos
lábios o veneno
a
rosa vermelha
esmagada
pela melancolia
Ele
sempre busca a ardência
a
caricia de um delicado algoz
Poética
Poesia se faz
com
arame farpado
contra
a carne crua
contra
a pele nua
A Aprendizagem do Deserto feita pelo poeta,
neste livro de Alexandre Bonafim, desemboca
num enraizamento quadrifendido do caminhante, simbolizando este o humano no seu
passar pelo aqui: o amor-paixão à boa maneira de Stendhal como pode ser visto
no poema Abraço; o alcançar de uma
regenerada voz poética detetável no poema Conhecimento
poético; uma recuperação do corpo (do outro amado? Do texto? De ambos?)
como assinala o poema Orgasmo e,
finalmente, uma apreensão, em lucidez e verdade, do eu:
mas
minha boca pode ver o anjo de seis asas
Minha
boca pronuncia a inocência
do
mais ardiloso vício
Eis
a aprendizagem feita através do deserto bonafiniano! Um acolhimento,
como acima se disse, feito em clarividência e autenticidade: do amor, do corpo,
da poesia e do humano. Este deserto
demarca-se, portanto, de tantos outros, como o de Buzzati (5), do qual tudo se
esperava e de onde nada de importante vinha, e que mais não era do que uma mera
fronteira de ansiosas esperas: de rituais, de envelhecimentos e mortes; o deserto de Alexandre Bonafim é, ao
invés, uma mescla de territorialidade e de
experiências passionais e ontológicas, pelo que se aproxima antes de obras como o
romance do anglo-sudanês Jamal Mahjoub (6), onde Gilmour e Tanner atravessam,
no sentido norte/ sul, um Sudão inóspito e, por vezes, desértico, mas em que no
final o Profeta irrompe ante Tanner ( Como pessoa? Como delírio provocado pela
malária?) e lhe revela todo o passado daquela região, bem como a verdadeira
natureza do humano, de que aquela gente é uma parca amostra, assim como também
Gilmour se acabará revelando como de facto é.
Em Aprendizagem
do Deserto, numa cuidada urdidura de vaivém, num luminoso filigranado de
imagens e de conseguidos processos de metaforização, Alexandre Bonafim dá-nos o fruto do seu apurado cismar
poético: uma constelação, onde, como já referi, o amor, o corpo, o humano e a
poesia se entrelaçam:
que
te ilumina
por
debaixo da pele
e
acende constelações
no
teu íntimo mais secreto
Sei
que ao te afagar a brisa
de
dentro da tua carne
prorrompe
o voo de pássaros
alucinados
pela luz do verão
(2) Clézio. J.M.G. Le. Deserto.
Lisboa: Publicações D. Quixote. 1986. P 119 (Tradução Fernanda Botelho).
(3) Foessel, Michael. La
Nuit, vivre sans témoin. Paris: Éditions Autrement, 2017, p 156.
(4) Pires, Isabel
Cristina. Deserto Pintado. Lisboa:
Editorial Caminho, 2007.
(5) Buzzati, Dino. O
Deserto dos Tártaros. Barcarena: Marcador Editora, 2014.
(6) Mahjoub, Jamal. La
Navigation du Faiseur de Pluie. Paris: Actes Sud, 1998.
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segunda-feira, 26 de outubro de 2020
Iati confusione
L'amore è un passaggio, qualcosa che
non sarà mai, tuo o mio, né nostro.
Così amiamo, i nuclei lasciati
per essere felici essere vivi
______
mi hai chiesto il senso e si sfrana
infinito fuori, oltre i muri del mondo
_______
ma sai, nella strenua ricerca si è
perfettibili insieme o soli per sempre
animali nella radura di un sogno
che dirada. Pochi resti e altri slanci.
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Ottonello, Francesco. Isola Aperta. Latiano: Interno Poesia, 2020, p 79.
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sábado, 24 de outubro de 2020
Suicidar-se a Oriente
para quem vive um sonho de arquipélagos
E repetimos erros como
pedras
as pegadas do vento as
águas agitadas
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não importa mais o ruído
das cordas
não importa a dor que
transportamos
virá o dia em que seremos recordados,
mas hoje a engrenagem arrasta-nos
e sabe-se que não podemos
voltar atrás
liberta-me e grava-me,
agora, com as tuas mãos
colherás os restos, a
poesia que se esfiapa
começa a soçobrar, a
começar a soçobrar, ama
a condensação da espécie,
o indivíduo que se dissipa
_____
assim viemos sós,
arrastados,
engrenagem que roda
desmedidamente
erros como pedras não
apagam
os teus passos e repetimos, repetimos.
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Ottonello, Francesco. Isola Aperta. Latiano: Interno Poesia, 2020, p 72 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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quarta-feira, 21 de outubro de 2020
terça-feira, 20 de outubro de 2020
Álvaro Alves de Faria, neste seu livro
intitulado Em Contramão (Palimage, 2020) mantém-se fiel a uma dualidade
fundamental que tem sido a pedra de toque da sua produção poética: a) a procura
de uma expressividade que traduza, o mais fielmente possível, dadas vivências
individuais (“Queria saber lidar com a vida,/ mas isso não é para iniciantes”,
23:6-7, neste meu texto, o primeiro número dirá sempre respeito à página e os
números seguintes aos versos; “Não me adivinho/ nem sei quem sou/ no instante
em que me revelo”, 41:4-6)) e igualmente certas interpretações de cariz universalizante,
sejam estas de tipo antropológico (“Antigo é o suor do homem(…) Frágil é o
homem/ que carrega a própria alma/ sem nunca saber”, 13:6-11); metapoético (“Canto
a poesia ainda possível/ neste vale de lágrimas,/ esta poesia que fere,/ que
corta. 47:1-4); social (“O que sei é que tenho vontade de explodir coisas,
especialmente prédios oficiais/ onde eles se reúnem todas as tardes” 61:2-4;
“Farei um favor à humanidade: explodirei o mundo amanhã/ao entardecer, para ser
mais romântico”, 67:1-3), etc. Esta procura
é feita pelo poeta através, não de uma linearidade discursiva eventualmente
redutora da complexidade, mas antes recorrendo a procedimentos vários de
desconstrução da linguagem; b) a fuga a qualquer tentativa de etiquetagem de
estarmos perante uma poética de livro único; Alves de Faria, sem fugir à
coerência interna da sua já longa produção poética, desmultiplica-a em obras,
que, apesar de se tangenciarem aqui e ali, enformam um somatório de livros
autónomos e perfeitamente individuados – breve exemplo: em Desviver (Escrituras,
2015) a tese central encontra-se subordinada a uma forte formalização do
sentido, onde as contradições e os paradoxos se regem por um trabalhar da
linguagem onde pontificam anáforas, aliterações e assonâncias; em elegias da
mão esquerda (Palimage, 2017) o sentido distende-se dando azo a longos
poemas monostróficos em verso livre; em A duas vozes (Palimage, 2018)
surge uma obra de cariz dialogal, onde o poeta brasileiro vai trocando
instantes, visões e interpretações com a poetisa portuguesa Leocádia Regalo.
Por tudo isto, percebe-se a persistência e a maestria com que Álvaro Alves de
Faria tem sabido edificar uma obra sólida e consistente.
Neste seu livro Em Contramão, o
poeta recorre, ao nível da explanação do sentido, ao entrecruzamento de
paradoxos (“Cada um à sua maneira tenta viver/ o que já é o bastante/ diante do
nada que há.”, 37:13-15; “O coração está morto/ mas ainda pulsa/ ainda pulsa/ o
coração que está morto.” 95:20-23); contradições (“que seja assim este andar
sempre por lugar nenhum”, 27:9; “Canto essa poesia ainda possível/essa que não
existe mais”, 47:15-16); oxímoros (“lúcida loucura” 73: 15) e repetições de
palavras e expressões (Cf. pp 97, 99, 119). O cismar do eu poético, complexo,
desalentado, ora perscrutador ora assertivo, seria intraduzível por uma
qualquer linearidade discursiva, daí Alves de Faria enveredar por um procedimento,
que, qual enorme caleidoscópio verbal e de imagens, nos desvela e reforça o
sentido que pretende fazer passar. Este tipo de ancoragem do discurso poético,
remete-nos para a tese de John E. Jackson relativamente à poesia de Paul Celan,
que, segundo este especialista da poesia moderna, se serve de um assumido
caráter paradoxal, para assim poder falar dos vários tipos de experiência
vivida nas nossas sociedades. Jackson exemplifica com versos que Celan recolhe
de Verlaine e de François Villon, que depois de os modificar lhes imprime os
paradoxos pretendidos, e o ensaísta conclui: “Um tipo de discurso no qual o Não
não está separado do Sim é, em certo sentido, paradoxal (…) tal superação do
princípio de identidade parece em todo o caso uma das caraterísticas de Niemandsrose.
(…) O efeito radica aqui na causalidade paradoxal que identifica a curva
(Krumm) e o direito (gerade). Também aqui, como no caso das rosas (num outro
poema), poderemos concluir que o paradoxo é solúvel” (In La poésie et son autre.
Paris: José Corti, 1998, pp 83-84). Ora, Alves de Faria, segue uma
estratégia formalmente semelhante: colocado num hoje marcado pela hecatombe e
por escombros, ameaçado pela desesperança e pela consciência da ruína e do
desencontro (“Perdido entre as nações que vivem dentro de mim,/ mas sou
estrangeiro em todas elas”, 27:1-2; “seguindo um destino/ que termina em
nada,/vais ao encontro de teu abismo/e não sabes voar”, 69:5-8), por
conseguinte, e ao nível das dimensões da temporalidade, o poeta vive um presente
ameaçado pelo desastre – rondando a filosofia de Cioran! – lembra um passado,
louvável mas irremediavelmente perdido, e, de tudo isto, infere um futuro
antecipadamente condenado. Contudo, é através da memória (“Alguma memória
nasce/- alguma memória sempre nasce-/neste tempo de barbárie,/ como um milagre
qualquer,/desses que acontecem nas igrejas(…)/ sempre nasce uma memória/(…)
para o agora”, 75:1-10), da ousadia (“Eis meu D. Quixote/a atravessar os
desertos das almas/como se fosse salvar o mundo”, 19:1-3) e da imaginação
(“Sempre haverá um sol em alguma janela/assim tão amarelo/que o próprio amarelo
não conhece. 25:1-3), que o poeta, como já assinalámos, supera os paradoxos,
deixando uma ténue frincha aberta ao (ainda) possível e é assim também que ele
escapa, neste livro, a um solipsismo desistente e absoluto, bem como a um
ceticismo radical. Álvaro Alves de Faria consegue deste modo que um quotidiano
e uma interioridade poética complexos e plurifacetados passem de uma perceção
individual a uma universalidade em que o leitor atento se reconhecerá, ou seja,
a sua poética não se fecha numa mera prestidigitação lamentosa, individualizada
e hermética, antes é a objetivação, a universalização, de um estar-aqui em que
todo o leitor atento se reconhecerá, e essa é a marca de água da verdadeira
poesia lírica (Cf. Theodor W, Adorno. Poesia Lírica e Sociedade. Coimbra:
Angelus Novus, 2003, pp 13-29), é através dela que Álvaro Alves de Faria, mesmo
vindo Em Contramão, acaba por se encontrar com todos nós mediante a sua
acuidade e o seu brilhantismo poético.
Paralelamente a tudo o que foi dito
relativamente ao poeta brasileiro Álvaro Alves de Faria, urge realçar o papel
determinante que o artista plástico português Rui Cavaleiro desempenhou na
concretização deste projeto que viria a desembocar na consecução do livro Em
Contramão, aliás, os desenhos são mesmo, neste livro, a mola impulsionadora
dos poemas. Estamos habituados a ver o desenho funcionar como ilustração da
palavra escrita, ora aqui sucede exatamente o inverso: o encontro, numa Rede
Social – o Twitter -, entre poeta e artista gráfico viria a originar um diálogo
artístico que se prolongaria por mais de dois anos: os desenhos postados inicialmente
por Rui Cavaleiro na dita Rede eram, num segundo momento, enviados a Alves de
Faria, que assim o solicitava e sobre eles escreveria um poema. Deste profícuo
encontro e, diremos mesmo, desta convergência no olhar o mundo e no
interpretá-lo, sem que cada um perdesse a sua especificidade, resultaram 55
desenhos e 55 poemas, que formam o livro de que temos vindo a falar.
Sem pretender elaborar uma hermenêutica do
trabalho de Rui Cavaleiro nesta obra, convém, no entanto, enfatizar algumas variáveis
de suma importância e que, não por acaso, estão em consonância com a parte
poemática da obra. Assim, neste trabalho gráfico posemos encontrar: a ironia (p
16), essa ironia surge por vezes eivada de algum desalento (pp 52, 56), em
outras de uma certa acidez (pp 54, 64); o humor (p 28); a crítica social e
política (p 114), mas também o comprometimento com momentos e causas (p 120); o
vivencial, que no trabalho de Rui Cavaleiro, aparece recorrentemente marcado
por uma enorme solidão das figuras retratadas (pp 24, 44, 46, 48, 52, 74), o
que faz aparecer como corolário certos desenhos nomeadamente o da página 70,
como se aí se acenasse a tese, ilustrada igualmente pelo poeta, de que de um
mundo de escombros e de ganância, para usar aqui a expressão de Peter Singer,
só pode derivar esse par antinómico que é, por um lado o desespero, mas por
outro, a indignação, a revolta e a vontade de superação deste imprestável
aqui-hoje. Creio ser exatamente neste território que desenhos e poemas
iniciaram o seu diálogo e, consequentemente, acabaram por se encontrar.
Ainda relativamente ao trabalho gráfico é
importante assinalar, que, nas suas opções estilísticas, o desenhador/ pintor recusa
correntes estéticas como o Abstracionismo, o Hiper-Realismo e o Simbolismo,
para assumir, muitas vezes de forma veemente, um certo Realismo de cariz
social, contudo, convém afastá-lo dos primeiros momentos da pintura
neorrealista, embora seja possível traçar convergências entre alguns desenhos
de Rui Cavaleiro e as fases ulteriores de pintores neorrealistas como por
exemplo Rogério Ribeiro (Cf. quadros Pateo, Dor ); existe também, na
minha opinião, alguns desenhos que fazem lembrar os grandes quadros do Fauvismo
(Cf. Quai des Grands Augustins e Saint-Michel et le Quai des Grands
Augustins, ambos de Albert Marquet) e em outros Rui Cavaleiro usa com
tenacidade e mestria técnicas de colagem e de sobreposição de materiais. Importa,
no entanto, deixar vincado que este espraiamento gráfico, não deriva de um
qualquer sincretismo tateante, mas antes da consciencialização de que perante
uma realidade múltipla, complexa e desdobrável importa recorrer a formas
igualmente múltiplas de a entender e captar essa mesma realidade, e, nesse
sentido, podemos concluir então que a opção estética de Rui Cavaleiro foi feliz
e eficaz.
Victor Oliveira Mateus
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domingo, 18 de outubro de 2020
Final do poema Tristan und Isolde: enlouquecimento e morte de Isolda.
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Isolda
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Como ele sorri
com que doçura e calma:
como abre ele, docemente,
os olhos!...
Será que não vedes,
amigos?...
Não o víeis?...
Cada vez mais luminoso,
como brilha agora
e se eleva
numa irradiação
estelar!...
Não o credes?...
Como o seu coração
ardentemente se dilata
no seu ventre
que abrange a
plenitude!...
Como os seus lábios,
com uma doçura inefável,
exalam ternamente
um sopro suave!...
Amigos!... Vede!...
Não o sentis vós e não o
vedes?
Serei eu a única a escutar
esta melodia
que, com uma doçura
tão maravilhosa,
afortunadamente lamentosa,
expressando tudo,
irradia dele
e reconciliadora,
m’ investe,
s’ eleva,
inunda-me com seus sons
de suaves ecos?...
Claros e sonoros,
envolvem-me por todo o
lado,
serão vagas
de brandos ventos?...
Serão ondas
de inebriantes aromas?
Como elas se agigantam
e me cercam de sons!...
Poderei eu respirar?...
Conseguirei escutar?...
Irei eu embriagar-me,
imergir?...
Dissolver-me
suavemente em aromas?....
Na ondulação das vagas,
na ressonância dos sons,
no turbilhão
da respiração universal,
ser engolida,
dissipar-me,
inconsciente!...
Alegria suprema!...
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Wagner, Richard, Tristan und Isolde (Bilingue). Paris: Aubier Flammarion, 1974, pp 239 -241 (Tradução de Victor Oliveira Mateus a partir da versão francesa de Jean d'Arièges).
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sábado, 17 de outubro de 2020
sexta-feira, 16 de outubro de 2020
Soneto X do Ciclo Do Amor
Diz-me quando, amor, contamos à
vida como felizes somos. Gosto
de ver gente na dúvida se o rosto
que mostramos é mesmo assim, já
que não se acredita haver quem
possa ser como nós. E porque não,
se a arte está em darmos a mão
logo cedo, à vista de ninguém,
ao deitar, beijo bem-disposto? Diz,
pois, se posso contar às aves como
do silêncio retiro mais um gomo
de prazer, que nos faz casal feliz.
E ao mundo gritar: "Não há mulher
como tu. Nada sou sem em ti ser."
Rodrigues, Ernesto. Perseu. Fafe: Editora Labirinto, 2020, p 38.
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quarta-feira, 14 de outubro de 2020
1ª Sessão de Leitura (Virtual) Integrada no XXIII Encuentro de Poetas Iberoamericanos (Salamanca).
Dia 15 de outubro: 13:00H Peru e México, 15:00H Argentina, 19:00Portugal, 20:00 Espanha
Com:
Juan Caneron (Chile)
Margarit Matitiahu (Israel)
Clara Schoenborn (Colômbia)
Paura Natalia Leyton (Bolívia)
Ana Cecilia Blum (Equador)
José Pulido (Venezuela).
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terça-feira, 13 de outubro de 2020
segunda-feira, 12 de outubro de 2020
domingo, 11 de outubro de 2020
sábado, 10 de outubro de 2020
terça-feira, 6 de outubro de 2020
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Primeira: a obra literária é um complexo sistema plurissignificante que não se esgota em nenhum modelo de análise por mais sofisticado que este seja;
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in Teresa Martins Marques, LEITURAS POLIÉDRICAS, Universitária Editora, 2002.
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