quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019


Siempre en amor vivimos de limosna,
sólo tenemos lo que buenamente
nos quiera conceder ese demente
que nos hiere, nos hunde y nos trastorna.

Su puerta inexorablemente entorna
y es inútil rogar que sea clemente,
nos ignora y la cierra dulcemente
y nada lo conmueve o lo soborna.

Y detrás de esa puerta agonizamos,
y detrás de esta puerta damos voces
y suplicamos que nos den consuelo.

Pero nadie responde a estos reclamos,
aunque oímos susurros, risas, roces:
la puerta es sorda y muda como el cielo.
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   Aguirre. Francisca. Detrás de los espejos, Antología 1973-2010. Madrid:  Bartleby Editores, 2013, p 51.
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terça-feira, 26 de fevereiro de 2019


                         Ítaca

E quem é que nunca esteve em Ítaca?
Quem não conhece a sua austera paisagem,
o anel de mar que a cerca,
a rude intimidade que nos impõe,
o elevado silêncio que nos descreve?
Ítaca resume-nos como um livro,
conduz-nos a nós próprios,
descobre-nos o som da espera.
Porque a espera tem som:
conserva o eco das vozes que já partiram.
Ítaca denuncia o sopro da vida,
faz-nos cúmplices da distância,
vigias cegos de uma senda
que se vai fazendo sem nós,
que não poderemos esquecer, porque
não há esquecimento do que se desconhece.
É doloroso despertar um dia
e contemplar um mar que nos abraça,
que nos unge de sal e batiza como filhos recém chegados,
Recordamos, então, os dias do vinho partilhado,
as palavras, não o eco;
as mãos, não o gesto diluído.
Vejo o mar que me cerca,
o vago azul por onde te perdeste,
confirmo o horizonte com avidez extenuada,
concedo aos olhos um momento
para cumprir a delicada tarefa;
depois, volto as costas
e dirijo os meus passos para Ítaca.
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   Aguirre, Francisca. Detrás de los espejos, Antología 1973-2010. Madrid: Bartleby Editores, 2013, pp 17-18 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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domingo, 24 de fevereiro de 2019

(Em jeito de recensão sobre o último livro de Henrique Levy, O Rapaz do Lilás )
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                         Do Rapaz do Lilás, ou um abraço do tamanho do nosso Mar.



   Enquanto alguém, serenamente, pedia champanhe para dar coragem ao autor que no sítio do jazz se expunha, fui espreitando o resultado das páginas sonhadas pelo Henrique Levy… páginas a que chamou o rapaz do lilás e de que, dias antes, eu tinha ouvido falar ao som das ondas hertzianas de uma rádio.
   … um livro, um poema, um verso que seja, não se escreve sem ser a muitas mãos, nada de solidão poética, pois que – como muito bem dizes - todo o bem esquecido nos descuidados caminhos a vós pertence também! Tal como tu, creio nos anjos que andam pelo mundo – como me ensinou a Natália - e por isso sou ansioso por palavras que, tal como me dizes, sei acordarem dos silêncios estremecidos pelo cintilar das sombras que atormentam os poetas. Entendo, pois, que a poesia diz as coisas tal como elas são, a filosofia explica o que as coisas são e a ciência organiza as coisas.
   É nas mãos, nas mãos inteiras, que se deita a poesia, o amor portanto! E por isto mesmo, nas mãos se transportam os lilases… é claro que é pela ilusão que o mundo floresce! É óbvio que nos deitamos nas mãos… é claro que nos espraiamos nas linhas divididas pelos dedos… é o óbvio metafísico que nos intui a felicidade!
  Encantados pelas saudades dos mistérios que permanecem nas mãos adormecemos ao som de púrpuras ilusões, adormecemos sem ter medo da chegada da madrugada redentora, adormecemos ao som das fantasias procuradas… mergulhamos na poesia que nos ajuda a encontrar a alquimia e a magia que nos descansa. Enfim!
   É pelas mãos que o rapaz do lilás procura a glória de alcançar essas outras mãos que diz inteiras e procura o estar junto a elas segurando o pão em frente ao mar, segurando, deste modo primordial, a vida que sabe ser composta de instantes inesperados. Percebo pois - não sem dor - que ao entardecer, junto ao mar, a vida se lança no rebuliço da espuma que é o leito da memória. Que mais não seja, o rapaz do Lilás, transporta uma espada que me trará um sono reparador, um descanso inusitado, uma alegria simples, uma alegria redentora…
   Quero ir-me já, mas fico… ali, em frente ao lugar do jazz, constatando que em setembro se colhem sombras e frutos e flores, - lilases - pois claro! Percebo enfim que, ao amor, resta o cântico da imensidão salgada! Percebo que é em silêncio que se desembarca em lugares de encantamento.
   - Que fazer então? Pergunto-me. Leio mais um pouco e dou as mãos à nudez do teu corpo ao longe embarcado.
   … levanto os olhos desta imensidão lilás e presto atenção. A função vai começar.
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Obrigado Henrique. Obrigado Henrique Levy.
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eliseu pacheco da silva
30 de outubro, 2019.
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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019



Perto de ti sinto aves nos cabelos.
Trémulas esvoaçam uma a uma na
certeza do cio das nossas mãos nos beirais.
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 Tavares, Lília. Nomes da Noite. S/c.: Modocromia Edições, 2019, p 96.
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Desce nua a sombra da tua ausência
em paredes de pedra e espanto.
Nas lajes revolteio como folhas de outono.
Procuro-te como quem guarda o segredo das aves.

Somos novelos onde o frio não pernoita.
Só o teu calor me refresca
só a tua nudez me agasalha.
Que lua nos sorrirá numa cama de orvalho?
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 Tavares, Lília. Nomes da Noite. S/c.: Modocromia Edições. Lda., 2019, p 72.
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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019


O teu corpo aparece e desaparece
com a velocidade do ar
num incêndio. Ou num eclipse.
É a solidão de um homem
sentado diante do mar. E perguntas:
o que vê ele na escuridão da noite
se chove intensamente?
E aguardas que na garganta
se dissolva o que não escutas.
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  Velhote, Jorge. Âmago. S/c.: Edições Sem Nome, 2018, p 37.
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quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

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Os pássaros regressam adejando contra o vento.
Contemplas as nuvens como se roçasses
a tua carne despida.
És como o vento ferindo as pálpebras
ou o assobio que zune incontido nos ouvidos
a mais pura das solidões
ou a eternidade do sofrimento.
São húmidos os lençóis da noite
e obsceno o coração não cessa de vibrar
como osso ensanguentado.
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  Velhote, Jorge. Âmago. S/c.: Edições Sem Nome, 2018, p 29.
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terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O poeta costarriquenho Juan Carlos Olivas, o pintor espanhol Miguel Elias e Victor Oliveira Mateus. Teatro Liceo da Salamca, Outubro de 2018.
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          Límites

Mi límite es un nido devastado.
Estar quieto,
cavilando a mitad de esta noche
el rumbo de mi cuerpo en la ceniza.

Es tiritar de olvido
cuando todos regresan,
mirar la gente vacía entre los buses
y saber callar,
y jamás entablar milagros.

Me conozco muy bien, y no confio,
por eso me doy la espalda
ante cualquier sospecha de mis pasos,
he abdicado de mis vidas anteriores,
he sufrido la furia de mís dias,
me he emborrachado de mí
y presiento el fragor de mi resaca.

No sé cómo puedo vivirme
con tanta plegaria en mis entrañas.
Mas el tiempo ahora arrastra
los escombros del país inefable en que viví,
estoy desnudo
y acaricio mis límites,
recozco jaurías en el cielo:
alguien que se parece a mí
me está llamando.
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   Olivas, Juan Carlos. Bitácora de los hechos consumados. São José, Costa Rica: Euned, 2011, pp 85-86.
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  Elegia para Arthur Rimbaud


Quiçá já não importe
que sejas uma ferida mais ante a minha porta.
Tudo te venceu inutilmente
e, contudo, quando escuto os teus passos,
sei que existem muitas formas
de nos mentirmos.

Cada poema é um gesto de dúvida,
e tu conheceste o tédio dos homens,
atraiçoaste-nos formosamente,
deixando-nos nas mãos
este fogo sem fé,
esta impaciência de todos os dias arrancar
uma etapa à morte,
este impossível cigarro que fumamos
atirando o morrão para o meio da pólvora.

Por isso não me importa
que sejas agora tão precoce quanto esquecido,
que tenhas mordido muitas vezes
as mãos que te deram de comer,
ou me tenhas dado a vida,
irmão, pai ou inconcluso inimigo.

Hoje és tu o ferido,
e cais na soleira de uma porta
que jamais abrirei.
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 Olivas, Juan Carlos. Bitácora de los hechos consumados. São José, Costa Rica: Euned, 2011, pp 15-16 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

AVISO
Do poema que se segue poder-se-ão intuir palavrões, pelo que este post é desaconselhado a leitores que não desejem tal tipo de literatura. A rubrica "De Escárnio e Maldizer" deste blogue aglutina poesia erótica, de escárnio, obscena e de maldizer que a tradição escreveu em língua portuguesa, mas que se encontra, por motivos óbvios, menorizada pelos estudiosos. Tal poesia é, contudo, um manancial de informação sociológica, moral e linguística. O poema que se irá seguir tem como ponto de partida o escândalo que envolveu um dos conselheiros do rei e  então governador civil de Lisboa, quando lhe armaram uma cilada política e ele foi encontrado na cama com um soldado de infantaria (Cf. Eduardo Pitta in Introdução à Poesia de António Boto, p 9 ) .  Esse episódio político-sexual esteve na base do romance O Barão de Lavos (1891) de Abel Botelho e do poema A Torre de Babel de Guerra Junqueiro, este, apesar da grande intimidade que tinha com D. Carlos, não perdia a oportunidade de visar a Monarquia. Deste episódio Abel Botelho aproveitou o enredo e Junqueiro as potencialidades do dito soldado.
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 A Torre de Babel ou A Porra do Soriano


Eu canto do Soriano o singular mang.lho!
Empresa colossal! Ciclópico Trabalho!
para o cantar inteiro e para o cantar bem
precisava de viver como Matusalém:
Dez séculos!
Enfim, nesta pobreza métrica
cantemos essa porra, porra quilométrica,
donde pendem co..ões que dão a ideia vaga
das nádegas brutais do Arcebispo de Br.ga.
Sim, cantemos a porra, o ca..lho iracundo
que, antes de nervo cru, já foi eixo do Mundo!
Mas do Leviatã! Iminência revel!
Estando murcho foi a Torre de Babel!
Ca..lho singular! É contemplá-lo
É vê-lo
teso! Atravessaria o quê?
O Sete-Estrelo!!
Em Tebas, em Paris, em Lagos, em Gomorra
juro que ninguém viu tão formidável porra.
É uma porra, arquiporra!
É um cara..ão  atroz
que se lhe podem dar trinta ou quarenta nós
e, ainda assim, fica o ca..lho preciso
para fod..r, da Terra, a Eva no Paraíso!!
É uma porra infinita, é um ca..lho insonte
que nas roscas outrora estrangulou Laconte.

Oh ca....lho imortal! Oh glória destes lusos!
Tu podias suprir todos os parafusos
que espremem com vigor os cachos do Alto Douro!
Onde é que há um abismo, onde há um sorvedouro
que assim possa conter esta porra do diabo??!
O Marquês de Val.das em vão mostra o rabo,
em vão mostra o fundo o pavoroso Oceano!
- Nada, nada contém a porra do Soriano!

Quando morrer, Senhor, que extraordinária cova,
que bainha, meu Deus!, para esta porra nova,
esta porra infeliz, esta porra precita,
judia errante atrás duma crica infinita??
- Uma fenda do globo, um sorvedouro ignoto
que lhe há-de abrir talvez um dia um terramoto
para que desague, esta porra medonha,
em grosso borbotões de clerical lang nha!!!

A porra do Soriano é um infinito assunto!
Se ela está em Lisboa ou em Coimbra, pergunto:
Onde é que ela começa? Onde é que ela termina,
essa porra que, estando em Braga, está na China,
porra que corre mais que o próprio pensamento,
que porra de pardal e porra de jumento??
Porra!
Mil vezes porra!
Porra de bruto
que é capaz de fo.er o Cosmos num minuto!!!
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 Junqueiro, Guerra. Poesia Portuguesa Erótica e Satírica, séculos XVIII-XIX. S/c.: Edições Afrodite, 1975, pp 342-344.
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Aprendiste el camino

de la última calma,
el de las cicatrices que abre la tierra.
Caminaste, lograste al fin lo que buscabas.

Ahora me hablan de ti hasta los pardales,
y es cuando los perfiles del río tiemblan,
ahora cuando las miradas se cortan
esperando una caricia...

Ahora aprieto mis manos
doblándose las uñas y sufro el dolor,
y callo y sueño. Me dejo caer sobre los lirios
siguiendo el equilibrio de la luna...

Y voy dejando las fuerzas ancladas
en lo eterno, y guardo el secreto
detrás de la puerta.
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Sagüillo, Araceli. Nosotros. Madrid: Ediciones Vitruvio, 2018, p 75.
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domingo, 17 de fevereiro de 2019

Num lugar qualquer o rondar dos pássaros, pássaros, pássaros e a sombra numa janela aberta. Num lugar qualquer a nostalgia de um amor, as palavras na noite escura, a chuva encharcando as mulheres vestidas com gaze transparente. Num lugar qualquer poetas riem e choram assinalando em cada gesto a marca do seu país de cansaço, apesar de sonhado de sol a sol. Então, na voracidade do tempo, sofreremos o último desalento: os voos que demos ao longo da vida desvanecer-se-ão e não passaremos de mais um bando de pássaros extraviados.

Sobrevivemos às cegas
e repartimos
o pão que nos consola.

Surpreendidos desde o dia em que nascemos,
aprendemos a chorar
e a rir, ante qualquer milagre.

Não pertencemos aos sem sorte,
mas é uma sorte partida ao meio.
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Sagüillo, Araceli. Nosotros. Madrid: Ediciones Vitruvio, 2018, p 33 (Tradução de Victor Oliveira Mateus).
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sábado, 16 de fevereiro de 2019


       
A luz que atravessa a mão
é a mesma que devora o cérebro

Tragam-me a sombra
que afasta o frio do nadir

Afastem essa corda congelada
dêem-me um fio de Sol
para tecer uma nova madrugada.
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  Silva-Terra, Manuel. Medula. S/c.: Editora Licorne, 2018, p 118.
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sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019



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Acabado de descobrir no YouTube:

Dulce Gonçalves, escritora dessa dificílima arte que eu jamais ousaria que é a literatura infantil, e que em Portugal tem nomes como Matilde Rosa Araújo, Maria Alberta Menéres e Alice Vieira. Dulce Gonçalves diz aqui um poema de Daniel Gonçalves, dá a sua visão do que é a poesia e cita alguns nomes de autores a ler... entre eles quem administra este Blogue. Fica aqui a minha gratidão a esta escritora!
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Nova direcção no PEN CLUB PORTUGUÊS , um Centro agregado ao PEN INTERNATIONAL (organização fundada em Londres, em 1921), após
eleições realizadas a 13 Fevereiro.

PEN : POETAS . ENSAÍSTAS. NARRADORES
DIRECÇÃO:
Teresa Martins Marques (Presidente da Direcção)
José Viale Moutinho (Vice-Presidente e Tesoureiro)
Paulo José Miranda (Secretário)
Fernando Pinto do Amaral (Vogal)
João Rasteiro (Vogal)
Francisco Belard (Suplente)
Inês Lourenço (Suplente)
MESA DA ASSEMBLEIA GERAL
Ernesto Rodrigues (Presidente da Assembleia Geral)
Nuno Camarneiro (1º Secretário)
Fernando Venâncio (2º Secretário)


CONSELHO FISCAL
Cristina Carvalho (Presidente do Conselho Fiscal)
Rui Miguel Mesquita ( Vogal)
Carlos Nogueira Fino (Vogal)
Ana Paula Coutinho (Suplente)
Victor Oliveira Mateus (Suplente)”
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Aqui: https://ntradio.pt/2019/02/14/nova-direccao-pen-club-portugues-2019-2022-presidida-pela-prof-dra-teresa-martins-marques/?fbclid=IwAR1rukqtyEYQkIwt5qgblFC6-D_LzYB-YPpyy8nkhoW90e2Wb9FtaV3ht8Y
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quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019


                           *

Algo impronunciável. Diz-me o teu nome. Diz-me o
silêncio que revela não os factos, mas a ordem. Solta
o espírito da criança aprisionada.
A corda está na máxima tensão. Solta-a tão rápido que
o instante fenda o círculo e te liberte do teu centro.

                          *

Toda a arte, como o amor, é uma forma de concentração
que sucede à dispersão - concentra o real num só ponto.
Ao concentrar, separa, destaca uma nota doTodo. Mas o
que acontece com o amor também acontece com o ódio.

                          *

"Se um homem faz da vida um uso artístico, o cérebro
passa a ser o seu coração"

                                       Mozart

                          *

Só quem arrisca a vida é verdadeiramente livre. Tudo o
mais é produto da retórica do medo. (Tirem-me o medo
daqui e toda a história humana se vira de pernas para o ar.)
Esta retórica acaba por se alimentar de si própria, torna-se
auto-suficiente, e alimenta legiões de palradores - alguns
até fazem disso profissão. Por isso, entendo Baudelaire
quando nos ensina que só há três existências autênticas: a
do guerreiro, a do santo e a do poeta. A poesia é acção, tal
como a guerra e a santidade.
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   Silva-Terra, Manuel. Medula. S/c.: Editora Licorne, 2018, p 30.
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quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019



        Croatiam esse Delendam

Más rara que un unicornio,
como un ángel
entre las estrellas apagadas.
De palmas unidas
En un gemido sin retorno.

Te asedió el silencio,
los pensamientos palidecen
en los márgenes, no escuchas
el movimiento del mar del fondo.

Todo tu ser
vuela alrededor de la estrella negra
y tus intenciones esparces
a los escudos fríos de ella.

El borde marcó la emboscada,
modesto lecho y la tumba,
el ato de ramas secas
y una onza de lomo líquido.

Del mar emerge
la cobra real
con un rubí en hueso de su frente.

El éter, meciendo el vapor,
dispara oscuros pequeños soles de amor.
Para tu sed, patria,
nadie traería agua.

Mientras el filo de los cantos,
oscurecido por el veneno,
se apaga en las entrañas de Hefestión.
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 Štambuk, Drago. Historia. Salamanca: Trilce Ediciones, 2018, p 85 (Tradução do croata de Željka Lovrenčić )
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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019


      Casa de los pecados enanos


Todos los amores son no correspondidos.

El último, delante del cual te encuentras,
cierra con golpe la puerta.

Oh, cómo te consternó
sacudida de la masa marina
en la turbia meñana temprana.

Del lecho voló el plumaje, la paja.
Blanqueó la ola y se rompió en la roca dura.

La negada, a la cual enjugaría lágrima,
hunde sus ojos en las heridas de tus palmas.

Retírate Satanás - de sentimientos cercenados!
Con el pañuelo en el cual sonates las narices,
mezcla el polvo rebanado la mazamorra del hollín.
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  Štambuk, Drago. Historia. Salamanca: Trilce Ediciones, 2018, pp 60-61 (Tradução do croata de Željka Lovrenčić )
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segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019


                           
                                Paisagem


As janelas arruinadas pintadas com desleixo.
As varandas, já pele e osso,
viradas para coisa nenhuma.
As galinhas debicando por entre as pedras:
ervas rasteiras, sementes, pedacinhos de musgo.

Enquanto o poema, virando costas ao modernismo,
abre-se à parede fronteira:
tijolos já sem cor, fundações ameaçadas,
pombais calafetados para as noites dos mendigos.
As janelas arruinadas e pintadas com desleixo
denunciam as portadas sem linguetas nem fecho.

As janelas e as portas violadas
- como insisto aqui no poema -
traduzem a morrinha da paisagem, mudam-na,
e num dos cantos do quadro, na vastidão de um azul seco,
brilham teus cabelos de oiro
como âncora de sol na ponta do beco.
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  Mateus, Victor Oliveira. Aquilo que não tem nome. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, p 24.
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O poeta e crítico espanhol José Antonio López-Amor acaba de traduzir, e de publicar na Revista Oculta Lit , o poema "Traz-me um tempo" do livro Aquilo que não tem nome (Coisas de Ler Edições, 2018, p 33).
Aqui:  https://www.ocultalit.com/poesia/victor-oliveira-mateus-poema/?fbclid=IwAR0V_jhk0XukAqcZMmFLhCt9M_HxKyjMEEj6xqtXwWcjfPJYpVpJ98R9SWo
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Tráeme un tiempo sin misterio.
Un tiempo sin mancha y limpio,
conmigo sentado en el umbral
por entre el zumbido de los insectos
y la cantinela de los hombes en el lagar.


Devuélveme los gestos que juzgaba perdidos.
No me hables de viajes!
De ciudades donde no viví,
de los cuerpos que consumiste
en aventuras más o menos frustradas,
cuando yo ni espejismo era.

Calla lo que me desarma,
lo que me ensancha el tedio:
la imagen de esos bares donde bebías,
en esas noches en que tropezabas con otros
y yo no pasaba de una imposibilidad
fermentando en un paisaje
antecipadamente derrotado.

Concédeme de nuevo ese tiempo sin misterio,
un tiempo cristalino,
un tiempo de locura y inocencia,
un tiempo de deseos transparentes,
de cuerpos ardientes y simples
como sólo las cosas puras consiguen tener.
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domingo, 10 de fevereiro de 2019



Com a presença da atriz Elsa Wellenkamp, do músico Rogério Godinho e dos escritores portugueses: Luís Filipe Sarmento, Victor Oliveira Mateus, Alberto Pereira, Raquel Serejo Martins, Vasco Catarino Soares, Fernando Venâncio, Maria Lucília Meleiro e dos escritores brasileiros: Everardo Norões, Cristina Ohana, Ronaldo Cagiano, Eltânia André.
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sábado, 9 de fevereiro de 2019




Só as tuas mãos trazem os frutos.
Só elas despem a mágoa
destes olhos, choupos meus,
carregados de sombra e rasos de água.

Só elas são
estrelas penduradas nos meus dedos.
- Ó mãos da minha alma,
flores abertas aos meus segredos!
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 Andrade, Eugénio de. Antologia (1945-1961). Porto: Delfos, 1961, p 41.
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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019


                   Ressurreição

A vida pôde mais do que a morte
E o Ressuscitado ergue-se, flamejante,
Com seu bastão de triunfo.
Os soldados que vigiavam o túmulo dormem.
Mentirão depois, dizendo que os discípulos o roubaram
Durante o seu infausto sono...
Cristo vive e vai consolar sua Mãe
Que sempre Nele acreditou
E O abraça, trémula de alegria.
Madalena vê-O e não O reconhece
Mas por Ele é reconhecida
E enviada aos discípulos
Que não querem acreditar...
Até que Pedro e João
Correm até ao túmulo
E têm todas as razões para crer...
Outros O verão no Cenáculo,
Outros a caminho de Emaús.
Seus olhos fixam o rosto amado
Com alegria e com paz.
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  Furtado, Maria Teresa Dias. Demanda do Poético no Retábulo da Igreja Matriz de Freixo de Espada à Cinta. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, p 80.
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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019



     Anunciação

"À força de tanto imaginar,
centraremos neste quarto a janela
Grande como uma porta,
Por onde entre a luz,
Não maior que a da jovem Maria...
Encimando-a, um óculo redondo.
Dela se avistará uma paisagem palaciana
Evocando o paraíso?!
O Anjo ajoelhado, à esquerda,
como usualmente,
Mas sem atavios, salvo o ceptro,
dada a sua condição de mensageiro.
Vestido do branco etéreo
De quem vem de outro reino.
A pomba do Espírito Santo resplandecente
A ouro como os mestres iluministas gostam
De acentuar, com seus raios luminosos apontando
Para toda a estância e também lá para fora,
Para essa cidade que os crentes anseiam.
Maria, à direita, ajoelhada, a ler os textos sagrados
Como manda o cânone.
O seu vestido pintá-lo-emos
Sempre da cor do universo de que será Rainha.
Na serenidade do rosto, a candura mais doce
Da sua obediente entrega.
A água viva de que Ela será o Vaso"

Desculpai,
Poderemos representar com esta cantarinha
De barro tão popular e tão nossa?

"Certo!
Empregarei uma claridade maior
Para esta tábua!"

Muito bem me parece, Mestre!
Todas as representações, anteriores às vossas
escuras eram!

"Avançamos!"
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  Sousa, Ana Peres de. Demanda do Poético no Retábulo da Igreja Matriz de Freixo de Espada à Cinta. S/c.: Coisas de Ler Edições, 2018, pp 32-33.
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          Nocturno


UN pájaro arrojaba
desde su pico azul
una hebra de luz
sobre las negras ramas.
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  Bernier, Juan Antonio. Letra y nube. Valencia, Pre-Textos, 2017, p 42.
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Personas concretas en paisajes abstractos



EL amante volvió
a ser sólo un tú,
una franja de luz
entre franjas de yo.
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  Bernier, Juan Antonio. Letra y nube. Valencia: Pre-Textos, 2017, p 12.
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                      Nos teus olhos

navegaste.

em silêncio desembarcaste neste lugar de encantamento que
celebra o inesperado encontro da terra com o mar, onde
marinheiros ajustam marés à lava alongada pela ilha.

vem comigo desvendar mistérios, pisar a torpeza dos ímpios,
nas águas descobrir búzios lilás, avançar por ermitérios
submersos nas profundezas do mar, despertar do sono
os que choram distâncias, remar rumo ao tormento das
mágoas, afogar a alagada escuridão, apagar ânsias em silêncio
afundadas no árido rubor riscado

nos espelhos à deriva nas águas.

- e vou estranhar dentro de mim e vou abrigar dentro de
mim o som da densidade dos espelhos quebrados, onde as
imagens de navios se ocultam embarcadas.

trazes nos lábios o sabor brando dos beijos que no mar se
desfazem em fragmentos de espelhos molhados,

dizem ser mica que brilha em cada grão de areia, mas eu
conheço o brilho dos teus olhos disperso por todas as ondas
rasgadas pelo mar...

resta ao amor o cântico da imensidão salgada, aguardando
pelo teu olhar mergulhado na praia onde me deito a
convocar a nudez do teu corpo ao longe embarcado

num atlântico navio a navegar...
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  Levy, Henrique. O rapaz do lilás. Confraria do Silêncio: Açores, 2018, pp 31-32.
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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019



No me exilio en la excusa que hace nido en la noche
de un domingo cualquiera. Quizá
mi abstracción solo indague
del sueño la medida y sus horarios,
de la piedra el hastío, del reloj la impaciencia,
de tu piel...
de tu piel cada instante.

Mi identidad por hombre se alimenta
- Ícaro intruso -
de mi libérrima obsesión de pájaro,
y vuelo de cigueña, de azor o de vencejo
por los cielos virtuales de la tinta.

Porque no he de negar nunca estas alas
ni el sueño que las nutre
me poso cada noche en la utopía
de las convictas ramas de los versos.
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  Vega, Santiago Redondo. Mecánica de fluidos. Madrid: Ediciones Vitruvio, 2018, p 28.
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sábado, 2 de fevereiro de 2019



Supimos que el silencio era un paisaje
de niebla y decepciones
anclado a la obviedad premiosa de los ojos
al decirnos la piel adiós de golpe
y oxidarnos la rabia
de aquéllos mil atrases que en noches de solsticio
endulzaron de herrumbre mi boca y tu regazo.

Cadenas, libertad,
eslabones con lengua que se abrazan al cuello de los días
y alientan, desde el nunca y para siempre,
la mitad del dolor con que dolernos tanto.

Dos mitades de un sueño a contraluz
de naranjas y enebros,
engarzado en acero de palabras
que ahora engulle - sobre una playa extinta -
la irremediable química del óxido.
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  Vega, Santiago Redondo. Mecánica de fluidos. Madrid: Ediciones Vitruvio, 2018, p 40.
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sexta-feira, 1 de fevereiro de 2019


     Regulamento do Prémio Internacional de Poesia Victor Oliveira Mateus
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1 - O presente regulamento define as normas que regem o concurso Prémio de Poesia Victor Oliveira Mateus, instituído pela Editora Labirinto.
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2 - Este concurso, que terá a sua primeira edição no presente ano, tem uma periodicidade bienal.
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3 - Objectivos
3.1 - Estimular a criação literária, bem como o aparecimento de novos autores.
3.2 - Fomentar a criação poética, pretendendo assim homenagear este importante género literário.
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4 - Participantes
4.1 - Podem participar na Primeira Edição do Prémio Internacional de Poesia Victor Oliveira Mateus poetas de todas as nacionalidades, desde que a obra submetida a concurso se apresente em língua portuguesa, em qualquer das suas variantes.
4.2 - Não podem concorrer a este Prémio: traduções, antologias e trabalhos já premiados.
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5 - Condições técnicas de participação
5.1 - Os poemários poderão ser de tema e forma livres e não devem exceder 25 versos por página, até ao máximo de 50 páginas.
5.2 - Cada autor deverá submeter a concurso um único trabalho inédito, não podendo nenhum dos poemas aí incluídos ter já sido editado quer em suporte de papel quer digital.
5.3 - Não serão admitidos trabalhos concorrentes a outros Prémios.
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6 - Prémios
6.1 - O Prémio consiste na publicação do livro vencedor pela Editora Labirinto e prefaciado por um elemento do Júri. O autor premiado receberá ainda 25 exemplares da obra.
6.2 - O vencedor cede os direitos de autor à Editora Labirinto, por um período de dois anos a contar da data de edição.
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7 - Júri
7.1 - O Júri da presente edição do Prémio é constituído por sete (7) escritores e Presidido por Marta López Vilar.
Elementos do Júri:
Marta López Vilar (Poeta, Tradutora e Ensaísta)
André Domingues (Escritor e Tradutor)
César Freitas (Ensaísta e Professor Universitário)
João de Mancelos (Poeta, Ensaísta e Professor Universitário)
José Eduardo Degrazia (Poeta e Ensaísta)
Pedro Marques Pinto (Jornalista, Professor e Crítico Literário)
Rosângela Vieira Rocha (Romancista, Professora Universitária e Jornalista)
7.2 - O Júri não atribuirá prémios ex aequo, podendo, no entanto, conceder Menções Honrosas, caso assim o entenda.
7.3 - O Júri poderá decidir quaisquer casos omissos neste Regulamento.
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8 - Prazos
8.1 - O prazo para a admissão dos originais inicia-se a 25 de fevereiro, data de nascimento do Poeta Victor Oliveira Mateus, e termina no dia 21 de março de 2019, Dia Mundial da Poesia, sendo a lista dos 10 finalistas anunciada a 22 de maio, Dia do Autor Português.
8.2 - A apresentação dos trabalhos concorrentes a este Prémio implica a plena aceitação do presente Regulamento.
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9 - Envio de Originais
9.1- Os trabalhos devem ser enviados para o e-mail: premio.internacional.poesia.vom@gmail.com, indicando no assunto: Prémio Internacional de Poesia Victor Oliveira Mateus.
9.2 - Os trabalhos serão assinados com um pseudónimo na primeira página imediatamente após o título, e deverão ser enviados num ficheiro em formato Word ou pdf, escritos em espaço duplo e em fonte Arial 12. Deverá ser igualmente enviado um outro ficheiro em formato Word ou pdf contendo o título da obra a concurso, pseudónimo e dados do autor (nome, nacionalidade, país de residência e contactos), não tendo o Júri acesso a este segundo ficheiro, que permanecerá unicamente na posse do Secretariado do Prémio.
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( O retrato do post é da autoria do Pintor Miguel Elias.)
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