segunda-feira, 30 de outubro de 2023


     O pássaro vermelho explica-se


"Sim, eu era o brilho que flutuava sobre a neve
e era a canção nas folhas de verão, mas este foi
apenas o primeiro truque
que aprendi de entre as minhas diversas mitologias,
pois também conheci a obediência: trazer galhos para o ninho,
comida para as crias, beijos para a minha noiva.
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Mas não paremos por aí, fica comigo: escuta.
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Se eu era a música que entrava no teu coração
então eu era a música do teu coração, que desejavas ou precisavas,
e assim a natureza selvagem aí brotava, com todos os seus
seguidores: jardineiros, amantes, pessoas que sofrem
com a morte dos rios.
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E era esta a minha verdadeira tarefa, ser a
música do corpo. Compreendes? porque o corpo precisa verdadeiramente
duma canção, dum espírito, duma alma. E para que isto funcione,
a alma precisa, no mínimo, dum corpo,
e eu pertenço tanto à terra como à inexplicável
beleza do céu
onde vôo tão naturalmente, tão bem-vindo, sim,
e é por isso que fui enviado, para ensinar isto ao teu coração."
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Mary Oliver. Pássaro vermelho. Porto: Flâneur, 2022, pp 167-169 (Tradução de Tomás Sottomayor).
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domingo, 29 de outubro de 2023


Era um dia assim desses que se vão fazendo


Era um dia assim, desses, que se vão fazendo
A tua voz seguia em frente o que de ti havia para dias mais bonitos.
Não trazias nenhuma luz, eras feito de vento, um cometa que nasceu desfeito
Mas nada me deteve pois eras um Amigo.
Tinhas ainda aquele calor de quem faz fogueiras e nossa lenda
Foi um dever cumprido
Na sonda desses dias de talentos feitos
Ficámos parados nos recantos desta casa com a alma que vesti,
trajando-a. Esta foi a casa que esculpi e nos dias estavas nela
assim como uma Arca, ou uma Barca que fiz bela. Tu nem eras
meu, éramos um do outro em cada um, nada nos servia, nada
nos queria... nem nós quisemos o que cada um seria
Fomos duros e tristes,.estava sempre frio, eu já nem sorria e tu
vazavas nos dias outros céus... não passava em nossos pés mais
nenhum rio.
E mesmo assim, não queria que te fosses
Se tivesses vindo, se num dia ameno te abrisse a porta e
vestíssemos a nossa melhor roupa...
Só para despedir de um tempo que nada nos fez e contudo não
desfez o nosso estranho mundo
Um poema mudo com valsas lentas de encanto e luto.
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 Amélia Vieira. Cânticos. S/c.: Filigrana Editora, 2023, p 46.
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sexta-feira, 20 de outubro de 2023

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Recital "Miércoles! Poesía!" organizado a partir de Bogotá, com a presença de Julio César Bustos (Bogotá), Raffaela Fazio (Roma), Alfredo Pérez Alencart (Salamanca), Victor Oliveira Mateus (Lisboa), Martha Canfield (Florença), Corina Oproae (Barcelona).
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segunda-feira, 16 de outubro de 2023



 Na FUNDAÇÃO JOSÉ SARAMAGO, no dia 19 de outubro, LEITURA INTERNACIONAL DE POESIA: segue acima o Programa com indicação de autores e países envolvidos no evento.

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Realizar-se-á, por streaming e com centralização na Colômbia, no próximo dia 18 de outubro (13:00H em Bogotá), o evento Miércoles! Poesía. Este acontecimento literário integrará autores da várias cidades europeias: Alfredo Pérez Alencart (Salamanca), Martha Canfield (Florença), Victor Oliveira Mateus (Lisboa), Corina Oproae (Barcelona) e Raffaela Fazio (Roma).
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domingo, 15 de outubro de 2023



Os autores portugueses presentes nas VI Jornadas de poesía de Valladolid (Espanha), que irão decorrer naquela cidade de 17 a 20 de outubro, são: Maria Toscano, Victor Oliveira Mateus, Gonçalo Salvado e António Lourenço Marques.
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sexta-feira, 13 de outubro de 2023

terça-feira, 10 de outubro de 2023


               Este pássaro de silêncio


Dorme em mim
este pássaro de silêncio,
na minha pele,
na minha roupa,
nos meus sapatos sem destino.
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Dorme em mim, sem saber
que o mundo conhece
as suas pegadas que estão no vento.
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O meu voo vertical
salva o final de todos os sonhos,
os que não pude viver
quando ainda era possível.
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Espero aproximar-me do mar,
como um marinheiro que se perde.
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Neste tempo incerto,
invento um poema novo,
um poema que me salva do sonho.
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  Stefania Di Leo. Falemos até a luz se apagar. Fafe: Editora Labirinto, 2023, p 59 (Tradução de Orlando Jorge Figueiredo; Prólogo de Nuno Júdice).
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domingo, 8 de outubro de 2023


      Desencontro 4


Não nos pertencem os corvos ou as gaivotas
nada nos pode ser
tão luminosamente   a preto e branco.


Como nós os pombos
humanamente cinzentos   no bico redondo
o voo curto da asa fechada
patas leves   não pequenas
na calçada


o homem,
parceiro inconfidente dos bancos no jardim
sempre lhes foi uma ave   de triste agoiro


  Rita Taborda Duarte. Não Desfazendo. Lisboa: Imprensa Nacional - Casa da Moeda, 2023, p 336.
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