sábado, 14 de janeiro de 2023

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A minha gratidão para o António José Cravo, excelente diseur de poesia, que com pertinácia vem mantendo esta rubrica dedicada à dita arte.
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quarta-feira, 11 de janeiro de 2023


        Song


All suddenly the wind comes soft,
  And Spring is here again;
And the hawthorn quickens with buds of green,
  And my heart with buds of pain.


My heart all Winter lay so numb,
  The earth so dead and frore,
That I never thought the Spring would come,
   Or my heart wake any more.


But Winter's broken and earth has woken,
  And the small birds cry again;
And the hawthorn hedge puts forth its buds,
  And my heart puts forth its pain.


   Rupert Brooke. The Collected Poems of Rupert Brooke. pp 75-76.
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2023


  soneto do esmerado merecer


seu amor de amor desabitado
poluído no medo de ter fado
voga pela demora acorrentado
pela demora e o medo desfigurado


amor que não chegou sequer a ser
ardeu, sarça da espera encantada,
fogo que o universo ordenou deter
sem imolar a sarça casa abençoada


a sua casa, sarça do sagrado
alma casa ardente do viver
suspirou a ternura o renascer


fluxo do nada veio esmerado
e as ondas da soberana voz do ser
vão guiá-lo ao futuro do merecer.


  Maria Toscano. 25 Sonetos. Coimbra: Grácio Editor, 2022, p 73.
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2023


            Estrela Cadente


Se disseres a palavra
eu ficarei tão contente,
cantarei como cantava
quando eu era inocente.


Se disseres a palavra
me espantarei novamente,
voarei como voava
e era pássaro e vidente.


Se disseres a palavra
voltarei rapidamente
como antes eu voltava,


Se disseres a palavra
será uma estrela cadente
que junto de nós brilhava.
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  José Eduardo Degrazia. Os melhores poemas. Porto Alegre: editora Bestiário, 2022, p 65 (Organização e Prefácio de Eduardo Jablonski).
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segunda-feira, 2 de janeiro de 2023


Attack

At dawn the ridge emerges massed and dun
In the wild purple of the glowering sun
Smouldering through spouts of drifting smoke that shroud
The menacing scarred slope; and, one by one,
Tanks creep and topple forward to the wire.
The barrage roars and lifts. Then, clumsily bowed
With bombs and guns and shovels and battle-gear,
Men jostle and climb to meet the bristling fire.
Lines of grey, muttering faces, masked with fear,
They leave their trenches, going over the top,
While time ticks blank and busy on their wrists,
And hope, with furtive eyes and grappling fists,
Flounders in mud. O Jesu, make it stop!

   Siegfried Sasson. The war poems. p 35.
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domingo, 1 de janeiro de 2023


  Todos os campos de girassóis a arder no coração


Quando me vestiram de Charlot
Eu não sabia quem era Charlot.
Tinha um chapéu e um colete negro
uma gravata negra sobre uma camisa branca
um olhar que não saberia descrever.
É difícil dizer com palavras um olhar.

A paz de um olhar humano é um incêncio
e a natureza de um incêndio é fazer nascer.

(Eu tinha umas pantufas vermelhas)
E uma camisola de lã grossa
E a minha avó -
foi certamente a minha avó -
vestiu-me de Charlot
num dia de Carnaval

O vento sopra quente
       e o trigo estremece -

O coração é um campo em chamas.


  Nuno Brito. Escrever um poema sobre a liberdade e vê-lo arder. Valle de Valdeflores: Ediciones Liliputienses, 2022, pp 85-86.
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