segunda-feira, 24 de setembro de 2018


O jovem artista foi apresentado ao Mestre, então com sessenta anos, por um primo do cardeal Niccolò Ridolfi, o escultor Pierantonio, que ajudava o Mestre nos trabalhos do túmulo de Lourenço e Juliano, na Sacristia Nova da Igreja de San Lorenzo. Uma grande amizade unira depois o Mestre ao cardeal Ridolfi. Tommaso, jovem pintor, exercia sobre todos um fascínio particular. Pierantonio, Vasari, biógrafo do Mestre e obviamente Varchi não tinham palavras suficientes para exprimir o seu enlevo. É preciso reconhecer, em abono da verdade, que o jovem não tinha ninguém igual em toda a cidade de Roma. Belo como um anjo, encantava todos com a sua agudeza de espírito, discrição e galantaria: qualidades dos melhor nascidos.
(...) Um trecho da carta não foi enviado. Como tudo já terminou, posso citá-lo. De resto não há nada nele que não houvesse em outras cartas (em vários sonetos pode encontrar-se uma expressão poética dessa passagem). "Tudo o que vejo - escrevia o velho enamorado - tudo, murmura ao meu ouvido, tudo me pede e induz a que te ame. Tudo o que não és tu, é nada para mim. Tenho saudades de ti, meu sol, e ardo não só de ti, mas de tudo que tem traços de semelhança com as tuas sobrancelhas e com os teus olhos. E quando estais ausentes, meus olhos, minha vida, cai a noite. Quem vos perdeu, perdeu o céu."
   Numa outra carta, que levei a Tommaso del Cavaliere, o Mestre prestava-lhe homenagem:(...) Além das cartas levava também presentes. Uma vez foi um desenho de Ganímedes, raptado por uma águia, outra as Bacanais, outra ainda Faetonte fulminado, ao cair no Pó (...).
   Tommaso del Cavalieri habitava um palácio em Trastevere. Fiquei deslumbrado pelo esplendor da sua residência e com muita pena comparei-a com a nossa, modesta casa na Rua Macel de Corvi.
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 Stryjkowski, Julian. Tommaso del Cavalieri. Lisboa: Edições Cotovia, 1990, pp 14-16.
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