quarta-feira, 19 de dezembro de 2018


Depois das chuvas, no enxurro, vislumbro traços
de um rosto que me lembra outro rosto
sombras ecos pictogramas
um segredo qualquer que há muito se desvaneceu.

Quanto mais nos elevamos ao céu
mais estéril a terra se torna, mais pungente é o desterro.
A voz assume o timbre do que nunca saberemos
e esquece o bafo do estrume que nos deu nome e apelido.

Somos ruínas no fundo de um poço, por entre as águas
insalubres do pensamento somos
quase a negação do que quase fomos.
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  Fragas, Rui Miguel. Sobre o prumo das falésias. Fafe: Editora Labirinto, 2018, 75.
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