quinta-feira, 26 de setembro de 2019



                 Amanhã

Hoje nada aconteceu por entre nuvens.
Um dia sem riscos e sem felicidade
acaba de morrer.
Hoje houve sombras no jardim,
os livros secaram sem serem necessários,
e as ruínas suspenderam a vida por um dia.
Não houve abismo nem olhares, nem prata
nem cobiça. Nada
atravessou as horas que foram pesando no relógio.
Nada riu, nada chorou. Nem a surpresa da carne
sempiterna.
Amanhã, disseram, amanhã será talvez.


  Pires, Isabel Cristina. Deserto Pintado. Lisboa: Editorial Caminho, 2007, p 77.
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