segunda-feira, 13 de julho de 2020


                     Vaticínio


Hás de beber as lágrimas sombrias
que nesta hora eu bebo soluçando!,
e o veneno das minhas ironias
há de rasgar-te os tímpanos cantando!

Hás de esgotar a taça das agonias
neste sabor a ódio - e, estertorando,
hás de crispar as tuas mãos vazias de amor,
como eu agora estou crispando!

E hás de encontrar-me em teu surpreso olhar
com o mesmo sorriso singular
que a minha boca em certas horas tem.

E eu hei de ver o teu olhar incerto
vagueando no intérmino deserto
dos teus braços tombados sem ninguém!
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Outono, 1926
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   Teixeira, Judith. Poesia e Prosa. Alfragide: Publicações Dom Quixote, 2015, p 202 (Organização e estudos introdutórios de Cláudia Pazos Alonso e Fabio Mario da Silva).
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