quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021


 

Há dias em que o coração aperta e vou às árvores

Como que para me vingar. Aceno com o lenço

Para o longínquo e muito custosamente

Decido não chorar, enquanto faço


Com que o machado corte, ampute, abata, arruíne.

Depois lamento o trabalho que faço,

Nem mais nem menos do que um homicídio

Em massa, pior ainda porque é premeditado.


É detestável o confinamento, a intenção

Sonegada de me aproximar dos outros,

O ridículo de algumas situações em que caímos.


Como se adiam os beijos que não damos?

Com que cobardia andamos afastados?

Que derrotados poemas são estes que escrevemos?


 Amadeu Baptista.  poeira escura. Leça da Palmeira: edições Eufeme, 2021, p 55.

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