sábado, 20 de janeiro de 2024


A poesia de Daisy Zamora foi publicada na Revista Oresteia no dia 16 de janeiro de 2022. (Para ler a totalidade dos poemas: ir puxando para cima o cursor lateral).
.

OTRO TIEMPO

 
 
Regresamos al lugar donde fuimos felices
acompañados de nuevos amigos.
Sentados uno frente al otro
tu mano ya no busca mi mano bajo la mesa.
 
A la sombra
están vacías las mesas que antes ocupábamos.
El mediodía blanquea los icacos en las más altas ramas,
las guayabas verdean entre las hojas verdes.
 
Hay cordialidad entre nosotros,
parecemos dos viejos amigos.
Con ternura, preñada de tristeza
miro las mesas y las sillas, muertas y solas.

***

OUTRA ETAPA

Regressamos ao lugar onde fomos felizes
acompanhados de novos amigos.
Sentados um frente ao outro
a tua mão já não procura a minha por baixo da mesa.

À sombra
estão vazias as mesas que antes ocupávamos.
O meio-dia ilumina os hicanos nos ramos mais altos,
as goiabas verdecem por entre as folhas verdes.

Há franqueza entre nós,
parecemos dois velhos amigos.
Com ternura, prenhe de tristeza
observo as mesas e as cadeiras, abandonadas e mortas.

PAISAJE ONÍRICO

A George


Tu cuerpo es un vergel que visito sonámbula,
bajo el espléndido solsticio del verano.
 
Tu cuerpo es la Primavera de Vivaldi
que brota de los violines y florece
en la vibrante levedad del aire.
 
Tu cuerpo es aquella rara bandada de gaviotas
volando sobre el desierto en el cielo de octubre.
 
Tu cuerpo es la deslumbrante cauda del cometa:
un reguero de estrellas en la noche absoluta.
 
Tu cuerpo es el devenir inmemorial del tiempo
y el incesante latido del corazón del mar.
 
Tu cuerpo es un niño que todavía espera
el abrazo imposible de su padre.
 
Tu cuerpo es añoranza de viejos aguaceros
y verdor de paisajes perdidos para mí.
 
Tu cuerpo es tierra, agua, sol, llanto que brota
desde el fondo insondable de la infancia.

***

PAISAGEM DE SONHO

Para o George

O teu corpo é um pomar que visito sonâmbula,
sob o esplêndido solstício do verão.

O teu corpo é a primavera de Vivaldi
que irrompe dos violinos e floresce
na vibrante leveza do ar.

O teu corpo é aquele raro bando de gaivotas
sobrevoando o deserto no céu de outubro.

O teu corpo é a deslumbrante cauda de um cometa:
um sulco de estrelas na imensidão da noite.

O teu corpo é o imemorial devir do tempo
e o bater incessante do coração do mar.

O teu corpo é um menino que ainda espera
o abraço impossível do pai.

O teu corpo é a nostalgia de antigos aguaceiros
e a frescura de paisagens perdidas para mim.

O teu corpo é terra, água, sol, canto que brota
do fundo insondável da infância.

A UNA DAMA QUE LAMENTA LA DUREZA DE MIS VERSOS
 
 
Sucede que cuando salgo, lo primero que veo
es un vagabundo que hurga en la basura.
A veces, una loca sombrea su miseria
frente a mi casa.  Y el vacío de sus ojos insomnes
entenebrece la luz de la mañana.
 
Esquinas y semáforos invadidos por gentes
que venden cualquier cosa. . .  enjambres de niños
se precipitan a limpiar automóviles
a cambio de un peso, un insulto, un golpe.
Adolescentes ofertan el único bien:  sus cuerpos.
Mendigos, limosneros, drogadictos:  la ciudad entera
es una mano famélica y suplicante.
 
Usted vive un mundo hermoso:  frondosas arboledas
canchas de tenis, piscinas donde retozan
bellos adolescentes.  Por las tardes
niñeras uniformadas pasean en cochecitos
a rubios serafines.
Su marido es funcionario importante.
Usted y su familia vacacionan en Nueva York o París
y en este país están sólo de paso.
 
Lamenta mis visiones ásperas.  Las quisiera suaves,
gratas como los pasteles y bombones que usted come.
Siento no complacerla.  Aquí, comemos piedras.

***

PARA UMA SENHORA QUE SE QUEIXA DA DUREZA DOS MEUS VERSOS

Acontece que quando saio, a primeira coisa que vejo
é um vagabundo esgaravatando o lixo.
Por vezes, uma louca projeta a sua miséria
frente à minha casa. E o vazio dos seus olhos insones
obscurece a luz da manhã.

Esquinas e semáforos repletos de gente
que vende de tudo um pouco… enxames de meninos
precipitam-se para limpar automóveis
em troca de um peso, um insulto, um golpe.
Adolescentes oferecem o seu único bem: o corpo.
Mendigos, pedintes, drogados: a cidade inteira
é uma mão faminta e suplicante.

A senhora vive num mundo faustoso: bosques frondosos
campos de ténis, piscinas onde se divertem
belos adolescentes. Pela tarde
amas de uniforme passeiam em carrinhos de bebé
loiros serafins.
O seu marido é um funcionário importante.
A senhora e a sua família passam férias em Nova Iorque ou Paris
e neste país estão apenas de passagem.

Queixa-se das minhas imagens duras. Queria-las suaves,
agradáveis como os bolos e os bombons que a senhora come.
Lamento não poder agradar-lhe. Aqui, nós comemos pedras.

Tradução do espanhol de Victor Oliveira Mateus