terça-feira, 2 de janeiro de 2024


A Poesia  de Paura Rodriguez Leyton foi publicada na Revista Oresteia no dia 10 de dezembro de 2023.
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Fragmento de Los momentos del fuego
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Es una oliva preciosa la santa cruz….
Santa Teresa de Ávila
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Cantos de arena – I
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1
.
Lo supieron sus manos
cuando acarició la rosa
y el aire trizado
brilló en cada coágulo de luz.
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Un tajo hirió el tiempo:
una breve eternidad
inundó el mundo
y las aves
callaron
y los grillos
no latieron en la noche.
.
Entonces
el filo
espinado
de un grito
congeló
cada pétalo.
.
2
.
Lo supo el remoto diseño de su piel.
Un aroma dulce
ungió cada tramo de epidermis.
Como arpegio de certero augurio
la brisa susurró el misterio.
(En el corazón del desierto
un campo de nardos apenas balbuceó).
.
3
.
Desde antes de nacer
sus ojos lo supieron.
Miraron la ruta peregrina,
la sed de la tierra
marcada por densas lágrimas
que golpeaban al caer.
Sus ojos contenían la noche:
hondo pozo
de agua fresca,
sonido
en la palabra
piedra.
.
4
.
La semilla lo sabía
antes
de ser
óvalo henchido de río
que regó viñas
sembrando altas sombras.
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Un gorjeo
perturbó
la armonía
de las hojas
lanceoladas de un olivo.
Hasta el huerto
llegó
el rumor
germinado
en un sueño
y un luminoso verde
encendió la mañana.
(La tierra
entregó
su húmeda presencia).
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5
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Apenas nacidas,
las nervaduras
de las hojas
ya lo supieron
y su savia
estremeció el humus.
(Latidos
cristalizados en hojarasca
corearon la lluvia).
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6
.
Desde su recóndito lecho
su corazón también lo sabía.
Cuando estalló en canto
(a veces gemido, a veces silencio),
estallaron unas ganas de reír,
humanas ganas de brotar en carcajadas
y cuadricularse en llanto.
Su corazón se abrió
en ruta abisal
hacia sí mismo.
.
El brillo
de la luna
se inscribió
en su memoria,
memoria de cíclicos médanos
que aún gotean.
¿Qué dolores
maquillaron
su alma?,
¿qué asombros
nacieron
de sus ojos?
.
7
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De su corazón brotaron
trémulas oraciones
mordidas hasta el tuétano.
Lo supieron
sus huellas
labradas en el tiempo:
(cenizas de longevo alfabeto).
.
Tembló la brizna:
infinito
errar
de un canto íntimo.
De tímpano
en tímpano
avanzó la marea.

*****

Cantos de areia – I
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1
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Souberam-no as suas mãos
quando acariciou a rosa
e o ar dilacerado
brilhou em cada feixe de luz.
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Um golpe feriu o tempo:
uma breve eternidade
inundou o mundo
e os pássaros
calaram-se
e os grilos
não cantaram na noite.
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Então
o gume
espinhoso
de um grito
congelou
cada pétala.
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2
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Soube-o o impreciso esboço da sua pele.
Um perfume doce
ungiu-lhe cada fragmento da epiderme.
Como o certeiro arpejo de um presságio
a brisa sussurrou-lhe o mistério.
(No coração do deserto
um campo de nardos estremeceu apenas).
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3
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Logo após nascer
os seus olhos adivinharam-no.
Contemplaram a rota peregrina,
a sede da terra
marcada por espessas lágrimas
que golpeavam ao cair.
.
Os seus olhos encerravam a noite:
fundo poço
de água fresca,
sussurro
na palavra
pedra.
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4
.

A semente sabia-o
antes
de ser
vala inundada pelo rio
que regava vinhas
semeando altas sombras.
.
Um gorjeio
perturbou
a harmonia
das folhas
lanceoladas de uma oliveira.
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Ao horto
chegou
o rumor
ampliado
num sonho
e um verde luminoso
iluminou a manhã.
(A terra
ofertava
a sua húmida presença).

5
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Mal nasciam,
as nervuras
das folhas
já o sabiam
e a sua seiva
remexia o húmus.
(Batidas
cristalizadas na folhagem
harmonizavam-se com a chuva).
.
6
.
A partir do seu recôndito leito
o seu coração também o sabia.
Quando irrompeu o canto
(às vezes gemido, às vezes silêncio),
surgiu também uma vontade de rir,
uma humana vontade de gargalhar
e de se desfazer em pranto.
O seu coração abriu-se
numa rota abissal
na sua própria direção.
.
O brilho
da lua
inscreveu-se
na sua memória,
memória de cíclicas dunas
que ainda acenam.
Que dores
mascararam
a sua alma?,
que assombros
nasceram
dos seus olhos?

.

7

Do seu coração brotaram
trémulas orações
mastigadas até à medula.
Souberam-no
as suas pegadas
lavradas no tempo:
(cinzas de um longevo alfabeto).
.
Tremeluziu o chuviscar:
infinito
errar
de um íntimo canto.
De tímpano
em tímpano
foi avançando a maré.
.

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Tradução de Victor Oliveira Mateus