O voo insólito
É dentro dos teus olhos que o meu voo se faz,
embriagado voo a percorrer desertos,
remotas regiões que há pouco áridas
agora surgem frutificando, crescem.
Assinala brinquedos da infância
fogosamente a flamejar em dias
qu' infindáveis d' amor foram passando
bebendo em sonhos íntimas delícias.
E depois continua a desnudar
tudo o que tange música e alegria...
Nem sequer interroga a percorrida
senda e aos teus olhos tenta regressar...
Conhece apenas um lugar: é esse
onde, insólito embora, freme as asas:
no brilho dos teus olhos permanece
e pousa neles, pousa, sem... pousar.
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António Salvado. Poemas para Nósside. Fafe: Editora Labirinto, 2021, p 86.
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