sábado, 30 de dezembro de 2023

A poesia de Massimo Gezzi foi publicada na Revista Oresteia a 3 de de junho de 2021.

.

Gelsi

Hai fatto questo semplice gesto con la mano:
l’hai sollevata fino al volto,
l’hai tesa verso il mio finestrino,
mentre guidavo: ho guardato,
e contro la luce caliginosa
della mattina li ho contati,
otto, otto gelsi a chioma aperta
come la coda di un pavone imbalsamato,
in processione lungo la linea
del nostro sguardo, così perfetti
che per un attimo ho scordato
orari coincidenze
e ho rallentato per capire
come mai di otto alberi in fila si possa dire
“guarda che belli!”, come hai detto,
se loro non decidono di esserlo e tutto
è un avvicendamento senza senso,
o se basta un movimento della mano
e un sorriso per fare di otto alberi
in riga un’illusione di riscatto.

 

(da L’attimo dopo, Luca Sossella Editore, 2009)

***

Amoreiras

Fizeste um gesto simples com a mão:
levantaste-a até ao rosto,
ergueste-a na direção da minha janela,
enquanto guiava: olhei,
e, contra a luz baça
da manhã, contei
oito, oito amoreiras com a folhagem aberta
como a cauda em leque de um pavão embalsamado,
em procissão ao longo da linha
do nosso olhar, tão perfeitas
que por um momento esqueci
o que no tempo se relacionava
e desacelerei, para entender
como se pode dizer de um renque de oito árvores:
“Olha que belas!”, como se diz,
se elas não decidem sê-lo e tudo
é um revezamento sem sentido,
ou se basta um mero movimento da mão
e um sorriso para fazer de oito árvores
alinhadas uma ilusão redentora.

 

Tradução do italiano de Victor Oliveira Mateus

***

 Sette raccomandazioni alle foglie cadenti

Mentre guarda il libro di anatomia
– l’oscenità del cuore sezionato,
gli atri, i ventricoli, le pareti sottili
che un soffio o un forame può danneggiare –
avverte lo scambio di fluidi che lo pervade,
e alle foglie accartocciate che resistono
intirizzendo al freddo del primo novembre,
dice questo:

– Spuntate in un luogo riparato. Meglio vicino al tronco, o dietro un nodo robusto.

– Fortificate il vostro picciòlo. Riempitevi di linfe, incollate le mezzelune alle dita nodose dei rami.

– Difendetevi, infoltite. Se il vento vi sferza, stringetevi assieme: quando l’una si sbilancia, l’altra la sosterrà.

– Spalancatevi, splendete. Coloratevi di smeraldo, fatevi stancare dal sole e dall’estate. Lasciate che vi respirino, e voi stesse: respirate.

– Alla prima stanchezza, disperate serenamente. Il giallo delle punte, le venature che irrigidiscono. Concentratevi allora sulla stretta che si allenta: misuratene la pressione, non le resistete.

– Nel cadere, soprattutto, siate lievi. Ognuna avrà il suo pezzo di prato, la sua pietra. I ragazzi vi prenderanno, le auto vi triteranno, finirete schiacciate nei libri, dentro un sacco.

– I frammenti che una mano stritola e disperde, del riccio che farete ormai marroni, croccanti: un vento li prenderà, li porterà lontano. Nessuno saprà dire se platano, olmo, acero o castagno. Diranno «ragnatela, gambo, pagina, telaio». Nessuna di queste parole vi rappresenterà.

 

(da Il numero dei vivi, Donzelli, 2015)

***

Sete recomendações às folhas que caem

Enquanto observa o livro de anatomia
– a obscenidade do coração seccionado,
as aurículas, os ventrículos, as paredes subtis
que um sopro ou um orifício podem danificar –
impede a troca dos fluidos que o invadem,
e às folhas espezinhadas que resistem
congelando ao frio do início de novembro
disse isto:

– Brotai num lugar abrigado. De preferência perto do tronco, ou atrás duma ramificação firme.

– Fortalecei o vosso pecíolo. Enchei-vos de linfa, ajustai as meias-luas aos galhos nodosos dos ramos.

– Protegei-vos, engrossai. Se o vento vos fustiga, agarrai-vos umas às outras: quando uma se desequilibra, a outra a amparará.

– Abri-vos, resplandecei. Colori-vos de esmeralda, consenti que o sol e o verão vos fatiguem. Deixai que vos respirem, e vós mesmas: respirai também.

– Ao primeiro sinal de fadiga, desanimai serenamente. O amarelo das pontas, os veios que enrijecem. Uni-vos então num braçado que se encoraje: avaliai a pressão, não lhe resistais.

– No cair, sobretudo, sede leves. Cada uma terá o seu lugar no relvado, a sua pedra. Os rapazes apanhar-vos-ão, os carros esmagar-vos-ão, acabareis calcadas nos livros, dentro de um saco.

– Os pedaços que uma mão esmaga e dispersa, dos feixes que estão agora acobreados, estaladiços: um vento os apanhará, ele os levará para longe. Ninguém saberá dizer se plátano, olmo, ácer ou castanheiro. Dirão “aranheira, haste, página, caixilho”. Nenhuma dessas palavras vos caraterizará.

 

Tradução do italiano de Victor Oliveira Mateus

***